As maiores minhocas do Brasil

Pescar era uma das nossas diversões quando eu e meus primos visitávamos a fazenda de meus avós nas férias. Com varas de bambu e uma lata cheia de minhocas em mãos, seguíamos em direção a um pequeno córrego onde passávamos algumas horas testando a paciência em busca de alguns peixinhos, até que a última isca fosse para o anzol.

Nem mesmo os especialistas sabem ao certo como surgiu a palavra “minhoca”. Uma das possibilidades é que seja uma modificação de “nyoka” ou “nhoka”, que, na língua Quimbundo – falada por muitos escravos africanos que foram trazidos para o Brasil –, significa “cobra”. A única certeza é que “açu” ou “uçu” quer dizer “grande” em tupi, e, portanto, minhocuçu significa “minhoca grande”. Em inglês, fica mais fácil: as minhocas são chamadas de “earthworm”, cujo significado é “verme da terra”. (Foto: Daves Portfolio / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)

Nem os especialistas sabem ao certo como surgiu a palavra “minhoca”. Uma das possibilidades é que seja uma modificação de “nyoka” ou “nhoka”, que, na língua Quimbundo – falada por muitos escravos africanos que foram trazidos para o Brasil –, significa “cobra”. A única certeza é que “açu” ou “uçu” quer dizer “grande” em tupi, e, portanto, minhocuçu significa “minhoca grande”. Em inglês, fica mais fácil: as minhocas são chamadas de “earthworm”, cujo significado é “verme da terra”. (Foto: Daves Portfolio / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)

As minhocas que usávamos não mediam mais que nossa mão. Naquela época, eu nem imaginava que pudessem existir algumas espécies mais compridas que minha perna e da espessura de um dedão – os minhocuçus!

São conhecidas no Brasil mais de 50 espécies de minhocuçus, a maioria medindo entre 30 e 50 centímetros de comprimento. A mais famosa delas é Rhinodrilus alatus. Desde muito tempo, a população das áreas onde essa espécie ocorre sabia de sua existência, mas foi só em 1971 que ela foi reconhecida por um especialista e ganhou seu nome científico.

(i)Rhinodrilus alatus(i) é encontrada apenas em áreas de Cerrado na região central de Minas Gerais, e atinge em média 60 centímetros de comprimento. (Foto: Acervo do Projeto Minhocuçu)

(i)Rhinodrilus alatus(i) é encontrada apenas em áreas de Cerrado na região central de Minas Gerais e atinge em média 60 centímetros de comprimento. (Foto: Acervo do Projeto Minhocuçu)

Rhinodrilus significa “minhoca com focinho” em grego. O nome é uma referência à extremidade anterior do bicho, chamada prostômio, que é comprida e lembra uma tromba ou um focinho. Já alatus quer “alado” em latim, ou “com asas”. Você pode se perguntar: seria uma minhoca voadora?

Que nada! As minhocas adultas possuem um órgão reprodutivo chamado clitelo. Em Rhinodrilus alatus, ele apresenta duas expansões laterais achatadas, as barbelas, que lembram asas.

Nestas imagens é possível observar o prostômio e as barbelas, que foram a inspiração para a criação do nome científico (i)Rhinodrilus alatus(i) (Fotos: Acervo do Projeto Minhocuçu)

Nestas imagens é possível observar o prostômio e as barbelas, que foram a inspiração para a criação do nome científico (i)Rhinodrilus alatus(i) (Fotos: Acervo do Projeto Minhocuçu)

Rhinodrilus alatus não é a única espécie do seu gênero nem foi a primeira a ser descoberta. Em 1918, o zoólogo Wilhelm Michaelsen estudou os pedaços de uma minhoca que havia sido encontrada em Sabará, Minas Gerais, e levada para a Alemanha. O pesquisador concluiu que se tratava de uma nova espécie, que poderia atingir nada menos que dois metros de comprimento, e chamou-a de Rhinodrilus fafner.

A escolha do nome fafner nunca foi explicada, mas pode ter origem em uma famosa lenda da Europa, que conta como o herói Siegfried derrotou um terrível dragão chamado Fafnir – ou Fafner. Algumas versões da história dizem que Fafnir era um dragão de corpo comprido e sem asas, e talvez por isso Michaelsen tenha dado à minhoca gigante do Brasil o nome do monstro mitológico.

Infelizmente, ninguém nunca mais encontrou uma Rhinodrilus fafner na natureza, e lá se vão quase 100 anos. Terá a espécie desaparecido para sempre após a construção de cidades nas regiões onde vivia, como Belo Horizonte?

Por outro lado, as notícias são melhores para Rhinodrilus alatus. Desde 2004, pesquisadores do Projeto Minhocuçu estudam essa espécie e descobriram que ela não está ameaçada de extinção, como se pensava antes. Além disso, o projeto tem auxiliado diversas famílias a coletar os minhocuçus de forma sustentável. Assim, a população de minhocas não é prejudicada e a pescaria continua garantida!

Matéria publicada em 07.06.2013

COMENTÁRIOS

  • Richard Gellen

    Cual sub-especie está presente na eco região da Pampa humida? Tem informaçã a respeito? Obrigado

    richardgellen2019@gmail.com

    Publicado em 22 de janeiro de 2021 Responder

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Henrique Caldeira Costa

Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a gente na coluna O nome dos bichos

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