Ai, que fedor!

O que você sabe sobre os gambás? Aposto que acerto sua resposta: “Ah, são bichos fedidos!” Mas, agora, lhe pergunto: para que tanto fedor? Se não souber, fique tranquilo, pois eu mesmo respondo…

Acredite se quiser, os gambás são primos americanos dos cangurus australianos. (foto: Arquivo do Laboratório de Vertebrados/ UFRJ)

Acredite se quiser, os gambás são primos americanos dos cangurus australianos. (foto: Arquivo do Laboratório de Vertebrados/ UFRJ)

Os gambás são, em geral, pequenos (a maior espécie pesa apenas sete quilos) e lentos. Por isso, são presas fáceis para bichos maiores e mais rápidos, como cachorros-do-mato e felinos silvestres. Para escapar de virarem almoço de médios e grandes carnívoros, os gambás desenvolveram algumas estratégias: uma é a tanatose, outra, o mau cheiro.

Tanatose, em bom português, significa fingir-se de morto, enganando os predadores para que eles desistam do ataque – a maioria dos carnívoros come apenas animais vivos. Por exemplo, o gambá Didelphis virginiana, encontrado nos Estados Unidos, é craque nesse teatro – tanto que, no idioma local, o inglês, usa-se a expressão “bancar o gambá” para referir-se a alguém que está, metaforicamente, se fingindo de morto. A fama de atores desses bichos também chegou ao cinema: no filme A Era do Gelo 2, os irmãos gambás Crash e Eddie se fingem de mortos o tempo todo.

Mas essa estratégia nem sempre funciona. Alguns predadores acabam descobrindo a farsa e atacam. Entra aí o mau cheiro! Ao sensibilizar o olfato de seus predadores, o gambá está mandando outra mensagem, como se dissesse “veja como estou fedido, não sou uma boa opção para o seu jantar; posso estar podre e cheio de doenças”.

Os cangambás também se valem do fedor para espantar predadores. (foto: Dan Dzurisin/ Flickr/ (a href=https://creativecommons.org/licenses/by/2.0)CC BY 2.0(/a))

Os cangambás também se valem do fedor para espantar predadores. (foto: Dan Dzurisin/ Flickr/ (a href=https://creativecommons.org/licenses/by/2.0)CC BY 2.0(/a))

Assim como os gambás, outros bichos se valem do mau cheiro para espantar predadores. O mais famoso deles é o cangambá ou jaritataca, que também já virou desenho animado (quem se lembra de Pepe Le Gambá?). Ele tem uma glândula que secreta um líquido muito fedido pelo ânus, espirrando-o em direção ao inimigo. Gambás e outros mamíferos, como cães domésticos, também possuem essa glândula, mas com odor mais brando, e nem sempre são capazes de “espirrar” o líquido que produzem.

Até hoje, os pesquisadores não sabem qual é a composição do líquido fedido produzido pelos gambás, mas é provável que se assemelhe à secreção dos cangambás: uma cadeia alcoólica cheia de enxofre em sua composição – daí o cheiro de gás ou ovo podre. (foto: Diogo Loretto)

Até hoje, os pesquisadores não sabem qual é a composição do líquido fedido produzido pelos gambás, mas é provável que se assemelhe à secreção dos cangambás: uma cadeia alcoólica cheia de enxofre em sua composição – daí o cheiro de gás ou ovo podre. (foto: Diogo Loretto)

A estratégia fedida é conhecida pelos cientistas há muitos anos e está ligada à tanatose, isto é, trata-se um mecanismo utilizado pelos gambás e outras espécies para reforçar a aparência de que estão mortos, exalando o mau cheiro semelhante ao de animais em decomposição. Algumas espécies usam esses odores também para outras finalidades, como demarcar territórios e atrair parceiros para a reprodução.

Bem, o papo está bom, mas esse tema acabou me deixando um pouco enjoado. Vamos mudar de assunto?

Este texto foi escrito por sugestão dos alunos do 5º ano A, da EMEB Professor Onivaldo Gregório, em Cafelândia, São Paulo. Se sua turma também tem uma sugestão, envie para chc@cienciahoje.org.br