Um chimpanzé e seu incrível plano

O chimpanzé Santino carrega uma pedra em sua mão esquerda. Cientista descobriu que esse macaco coletava, com calma e antecedência, as rochas que lançaria nos visitantes de um zoo da Suécia (fotos: Reprodução/Current Biology).

Santino é um chimpanzé de 31 anos que vive em um zoológico da Suécia. Aos 16, ele começou a receber os visitantes do zoo de uma forma pouco amigável: lançando pedras. A princípio, isso ocorria de vez em quando. Mas, em junho de 1997, tornou-se frequente – e, em 1998, passou a incluir o lançamento de discos de concreto. Por isso, o comportamento de Santino começou a ser observado. Durante dez anos, um cientista analisou as observações feitas por tratadores e chegou à conclusão de que o chimpanzé, calmamente e com antecedência, coletava as pedras que lançaria nos visitantes e confeccionava os discos de concreto. Essa seria uma evidência de que outros animais, além dos humanos, fazem espontaneamente planos para o futuro.

De olho no que vem por aí
“Essas observações mostram, de forma convincente, que os macacos realmente consideram o futuro de uma maneira complexa”, disse à imprensa Mathias Osvath, da Universidade de Lund, localizada na Suécia.

Cientistas já haviam observado, na natureza e em cativeiro, comportamentos de macacos que poderiam indicar planejamento. Mas, em geral, não era possível definir se esses animais, ao coletar uma pedra para quebrar uma noz ou ao usar um galho de árvore para pescar queriam suprir uma necessidade atual ou futura.

Uma pilha de rochas e discos de concreto montada por um tratador mostra como eram as feitas pelo chimpanzé Santino

No caso de Santino, porém, anos de observação sugerem que o animal agia de olho no futuro. Uma manhã, quando o local onde ele vive passou por uma limpeza, cinco pilhas, com três a oito pedras cada, foram encontradas, assim como rochas entre elas. Uma camada de alga indicava que as rochas haviam sido retiradas do fosso de água que há ao redor da porção de terra que Santino ocupa no zoo. Ao observar o chimpanzé por cinco dias consecutivos a partir de um esconderijo, um tratador viu que, antes de o zoo abrir, Santino recolhia pedras da água. Pedras que, no mesmo dia, seriam lançadas nos visitantes. Detalhe: elas eram postas na margem do fosso, diante da área reservada ao público.

No caso dos discos de concreto, Santino agia de uma forma ainda mais curiosa. Em zoos como o deste chimpanzé, que fica em uma região próxima ao ártico, a água pode entrar nas estruturas de concreto e congelar em microfendas, contribuindo para que uma camada da superfície se solte. “Isso é quase invisível, mas pode ser detectado quando se bate nas áreas afetadas, pois um som oco é produzido”, conta Mathias Osvath, na revista Current Biology, que descreve suas descobertas.

Pois bem! Santino foi visto batendo suavemente nas rochas de concreto que havia no centro do local que ocupa no zoo. De tempos em tempos, ele dava golpes mais fortes para conseguir que a superfície se quebrasse em pedaços com o formato de um disco, que podiam ser quebrados novamente, para ficarem menores. Esses fragmentos eram, então, transportados para as margens do fosso.

Tranquilidade para planejar
Quando coletava pedras ou fabricava discos de concreto, Santino era a tranquilidade em forma de chimpanzé. Já quando os lançava no público, ele estava sempre agitado. Essa diferença é mais um indício de que o comportamento do macaco era de planejamento. Para que o comportamento seja definido assim, o animal deve apresentar um estado mental, durante o planejamento, diferente do que apresenta na situação futura que irá viver.

Além disso, vários fatos fortalecem a interpretação de que o chimpanzé agiu de forma premeditada, planejando com antecedência seus ataques ao público. Santino, por exemplo, nunca usou as pedras e o concreto para outros fins e nem os lançou no período em que o zoo fica fechado a visitantes, o que ocorre durante parte do ano. Assim sendo, na visão de Mathias Osvath, o chimpanzé demonstra uma habilidade de planejamento que chimpanzés selvagens em geral, assim como outros animais, provavelmente também têm. Quem diria que isso seria possível, não é mesmo?!

 

Matéria publicada em 13.05.2010

COMENTÁRIOS

  • ANNA ELISE

    ADOREI A CURIOSIDADE.

    Publicado em 23 de fevereiro de 2019 Responder

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Mara Figueira

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