Tal pai… tal filho?

Um bebê e uma pessoa adulta são bastante parecidos. Muda o tamanho, mas os membros e outras partes do corpo são os mesmos: o neném já tem o nariz, os olhos, a barriga e as pernas que terá quando crescer. Isso funciona para todos os mamíferos, mas não é verdade para todos os animais. Um sapo e um girino, por exemplo, são muito diferentes; uma lagarta e uma borboleta, também. Apresento hoje mais um caso curioso: o da anêmona Isarachnanthus nocturnus.

À esquerda, <i>Isarachnanthus nocturnus</i> adulto. À direita, uma larva. Assim, no olho, é difícil desconfiar que são da mesma espécie, né? (fotos cedidas pelo pesquisador)

À esquerda, Isarachnanthus nocturnus adulto. À direita, uma larva. Assim, no olho, é difícil desconfiar que são da mesma espécie, né? (fotos cedidas pelo pesquisador)

Ao nascer, na fase larval, essa espécie mais parece uma água-viva. Nada próximo à superfície da água e movimenta-se bastante, viajando quilômetros pelos mares. Já o indivíduo adulto se fixa no fundo do oceano e permanece no mesmo local pelo resto da vida.

Até agora, os cientistas conheciam apenas a versão adulta da anêmona, famosa entre os mergulhadores noturnos por abrir seus tentáculos apenas à noite – durante o dia, sob a luz do Sol, ela se fecha para proteger-se dos predadores. Quando o biólogo Sérgio Stampar, da Universidade Estadual Paulista, coletou no mar um exemplar da pequena larva, pensou tratar-se de uma nova espécie!

Depois de um tempo de observação no laboratório, no entanto, ele viu que o animal era, na verdade, Isarachnanthus nocturnus. Acompanhe o crescimento do animal:

Quem tirou a prova dos nove e deu certeza de que eram larva e adulto de uma mesma espécie foi o exame de DNA. “Mesmo com aparências diferentes, larva e adulto apresentam o mesmo material genético”, explica Sérgio. Por isso, ele recomenda que a identificação das espécies tenha sempre um teste de DNA como etapa – mais ou menos como a leitura de um código de barras para identificar um produto no supermercado.

A viagem da larva
A fase larval de Isarachnanthus nocturnus dura de 63 a 118 dias. Nesse período, o animal pode viajar até 4 mil quilômetros, deslocando-se com a ajuda de tentáculos e do próprio movimento das águas. Esse comportamento é interessante porque, além de espalhar a espécie por diferentes locais, ajuda a preservá-la em caso de mudanças ambientais. “Se um animal é específico de um lugar impactado, pode desaparecer. Já uma espécie com essa dispersão pode sofrer com a mudança, mas continua se espalhando”, explica Sérgio. Esta espécie de anêmona é encontrada na costa brasileira, do Pará a Santa Catarina, e também na costa da Argentina e no Caribe.

Matéria publicada em 30.11.2015

COMENTÁRIOS

  • Anna Elise

    Que fofo!

    Publicado em 18 de agosto de 2018 Responder

  • Juliana

    C

    Publicado em 5 de dezembro de 2020 Responder

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Iara Pinheiro

Fui uma criança curiosa e tagarela, por isso adoro ler e escrever. Surgiu daí minha vontade de ser jornalista: para descobrir um pouquinho todo o dia.

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