Quase meio milhão de árvores

Visitar capitais como Rio de Janeiro e São Paulo. Pegar um avião e ir até Portugal. Nesse país, passar por Lisboa e por cidades como Coimbra e Porto. Você gostaria de fazer esse passeio? Pois um brasileiro cumpriu esse trajeto, mas não foi para se divertir. Na verdade, ele tinha uma missão: levantar informações sobre o pau-brasil, a árvore que deu nome ao nosso país e hoje é um dos seus maiores símbolos.

O pau-brasil é a árvore que batizou o nosso país! Na época da colonização, ela era explorada para o aproveitamento da madeira e para a extração de um corante vermelho.

Se você quer saber o que leva alguém a ir tão longe para estudar uma árvore, aqui vai a resposta: Yuri Tavares da Rocha, professor da Universidade de São Paulo, é um dos participantes do Projeto Pau-Brasil. Criado há quatro anos, esse projeto tem o objetivo de realizar pesquisas para aumentar o conhecimento que existe sobre essa árvore, que durante anos foi explorada pelos portugueses quando o Brasil era uma colônia dessa nação. Talvez você não sabia, mas há poucos estudos no país sobre o pau-brasil, árvore da qual se extraía um corante vermelho para tingir roupas e se aproveitava a madeira.

Yuri investigou a história e a distribuição geográfica do pau-brasil desde 1500 até hoje, além de analisar o quanto a espécie está preservada. Para tanto, o pesquisador consultou diversos documentos em arquivos no Brasil e em Portugal, leu livros com relatos de viajantes e dedicados à história do nosso país, entre muitas outras fontes.

Diversas descobertas foram feitas por ele, mas sabe qual foi a principal? Com base no material que consultou – mais de 800 documentos! –, Yuri pôde determinar o número de árvores de pau-brasil que os portugueses oficialmente derrubaram. E sabe quantas foram? Mais de 470 mil!

É a primeira vez que temos um número oficial da exploração de pau-brasil feita pelos portugueses. Mas a quantidade de árvores derrubadas pode ter sido maior ainda, já que outros europeus também retiraram pau-brasil do território brasileiro. “Certamente esse número pode aumentar e nunca será definitivo porque franceses, holandeses e outros europeus realizavam atividades de tráfico e pirataria em relação ao pau-brasil”, explica. “Mas é difícil definir o quanto foi explorado porque, como essa retirada de árvores era ilegal, documentos que a registrem devem ser raros.”

O fato de Portugal ter firmado acordos com os chamados “contratadores de pau-brasil”, dando a eles permissão para explorar essa espécie, também leva o pesquisador a crer que o número de árvores derrubadas pode ser maior ainda. Isso porque, sem uma fiscalização rígida, essa atividade pode ter permitido a retirada ilegal de pau-brasil da colônia.

A presença dessa árvore em nosso território, aliás, era tão importante que contribuiu para que ele fosse ocupado. “Os primeiros locais de concentração de europeus na costa do Brasil foram os usados para armazenar o pau-brasil enquanto as embarcações estavam na Europa ou em viagem”, explica Yuri. “Esses locais eram chamados de feitorias e penso que foi a partir deles que a ocupação do território se iniciou. Sem o pau-brasil, o lugar não teria um atrativo imediato para ser ocupado.”

Da mesma forma, por causa da existência de pau-brasil, nações européias, como a França, tentaram tomar parte da colônia portuguesa para si. “Os franceses sabiam da existência de pau-brasil na região onde hoje está a cidade do Rio de Janeiro, que era pouco guardada e ocupada. Assim, planejaram ocupar uma das ilhas da Baía de Guanabara, mas acabaram sendo expulsos pelos portugueses”, conta Yuri.

Tudo isso faz parte da história do pau-brasil. Mas qual a sua situação hoje? Há quantidade significativa de árvores nativas em estados como Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. No Espírito Santo, em Sergipe e em São Paulo, também há pau-brasil, embora ali as árvores não sejam naturais do lugar e, sim, plantadas.

Os tempos mudaram e o pau-brasil não é mais usado para obter corantes. Porém, o fato de a sua madeira ser empregada atualmente para a confecção de arcos de instrumentos musicais de corda – e sem substitutos à altura – ameaça a sua sobrevivência. “Esse uso incentiva a exploração do pau-brasil que ainda existe, o que faz com que ele precise ser mantido na lista de espécies ameaçadas”, explica Yuri.

Para proteger o pau-brasil, ações como a realização de mais pesquisas sobre a árvore e de estudos que indiquem formas de utilizá-la de forma equilibrada seriam muito bem-vindas. “O pau-brasil, sem a realização de pesquisas científicas corretas e confiáveis, pode ser extinto nos próximos 500 anos”, conta Yuri. Portanto, é hora de investigar o máximo possível essa espécie. Você não acha?

Matéria publicada em 05.08.2005

COMENTÁRIOS

  • victor

    muito obrigado!!!! por ter esse site

    Publicado em 4 de junho de 2020 Responder

    • miguel

      pelo menos pego uma
      cola na prova kk

      Publicado em 3 de novembro de 2020 Responder

  • miguel

    pra quem e criança isso e um estudo eu acho

    Publicado em 3 de novembro de 2020 Responder

  • Flávia

    Que legal esse texto gostei muito de ler. É bom que já estudei para a prova

    Publicado em 3 de novembro de 2020 Responder

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Mara Figueira

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