Pedra, bronze, história…

Era 1862. Debaixo de uma chuva fina, os moradores do Rio de Janeiro, capital imperial, assistiam à inauguração da primeira estátua construída no Brasil: a estátua equestre de D. Pedro I, no Rossio – onde hoje se localiza a Praça Tiradentes.

Estavam presentes D. Pedro II e a família imperial, ministros e outros políticos importantes, homens ricos com suas famílias, além dos escravos e dos pobres. Todos estavam lá, comemorando o herói nacional que “fez” a independência do Brasil, em 1822, e “deu”, em 1824, a primeira Constituição deste país. Aliás, foi assim que o representaram: a cavalo, com o braço estendido levantando a constituição.

A estátua equestre de D. Pedro I, no Rio de Janeiro, foi inaugurada em 1862 e simboliza a independência do Brasil (Foto: Carlos Luis M C da Cruz / Wikimedia Commons / <a href= http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/deed.pt>CC BY-SA 3.0</a>)

A estátua equestre de D. Pedro I, no Rio de Janeiro, foi inaugurada em 1862 e simboliza a independência do Brasil (Foto: Carlos Luis M C da Cruz / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0)

Na verdade, D. Pedro I não “fez” a Independência e também não “deu” a Constituição aos brasileiros. Mas era desse jeito que ele deveria aparecer no monumento. Afinal, a estátua foi imaginada para que as pessoas se convencessem de que o primeiro imperador inventou e organizou o Brasil.

É a história dos grandes homens e dos grandes acontecimentos que aparece em grande parte das estátuas, bustos e conjuntos monumentais. Quer mais exemplos? Na cidade de São Paulo, existem várias estátuas e monumentos dedicados aos bandeirantes: Anhanguera, Borba Gato e o magnífico Monumento às Bandeiras são alguns deles.

As representações de bandeirantes mostram os personagens homenageados prendendo os índios do sertão? Não! Os “negros da terra”, como os índios eram chamados pelos não índios, raramente aparecem nos monumentos dedicados aos bandeirantes.

No Monumento às Bandeiras, que fica na entrada do Parque do Ibirapuera, eles foram representados colaborando com os bandeirantes. Lá no final do monumento, tem um índio empurrando uma canoa. Pelo meio, aparece uma índia carregando uma criança. Mas quem está na frente da escultura, conduzindo a entrada para o sertão, são dois brancos a cavalo.

No Monumento às Bandeiras, em São Paulo, os índios foram representados colaborando com os bandeirantes (Foto: Dornicke – Lucas B. Salles / Domínio Público)

No Monumento às Bandeiras, em São Paulo, os índios foram representados colaborando com os bandeirantes (Foto: Dornicke – Lucas B. Salles / Domínio Público)

Normalmente, é a história oficial – ou seja, aquela que agrada aos que estão no poder – que se transforma em figuras de pedra, bronze ou ferro fundido.

Mas será que ainda hoje só há espaço para que a história dos grandes homens e de fatos extraordinários seja representada pelas estátuas? Não. Nem sempre é a história dos poderosos, dos grupos privilegiados da sociedade, que aparece nas estátuas. Muitas vezes, grupos historicamente excluídos conseguem representar seus heróis, seus símbolos, sua história.

No Rio de Janeiro, por exemplo, foi inaugurada, em 1986, uma cabeça dedicada a Zumbi dos Palmares, líder negro que lutou pela abolição da escravatura. Tem também estátua dedicada a pai-de-santo, estátua de sambista, estátua para operários… Isso mostra que os grupos foram conquistando espaço para homenagear seus representantes. Ainda bem!

(Esta é uma reedição do texto publicado na CHC 107.)

Matéria publicada em 13.01.2014

COMENTÁRIOS

  • MATIAS

    OS MONUMENTOS SÃO A FORMA DE DEIXAR GRAVADOS POR GERAÇÕES OS MOMENTOS HISTÓRICOS MAIS IMPORTANTES DE UMA NAÇÃO.

    Publicado em 3 de junho de 2020 Responder

    • Anônimo

      calma ae com o caps lock kkkkk

      Publicado em 9 de junho de 2021 Responder

  • Sara Fernanda Rocha Barbosa

    essa leitura foi dimas

    Publicado em 4 de junho de 2020 Responder

  • Sara Fernanda Rocha Barbosa

    essa leitura foi demas tia Marcia. estou com muitas saudades

    Publicado em 4 de junho de 2020 Responder

  • Monyse

    Uau!!! Amei saber de coisas que não sabia!!!!

    Publicado em 4 de junho de 2020 Responder

  • Monyse

    Amei esse texto!!! Estou apaixonada!!!

    Publicado em 4 de junho de 2020 Responder

  • Monyse

    TCHAU,TCHAU!

    Publicado em 4 de junho de 2020 Responder

  • Allana

    Oi tia Marcia eu adorei o texto fiquei apaixonada vou ler sobre outras coisas também e vou fazer algumas anotações

    Publicado em 18 de junho de 2020 Responder

  • José Guylherme

    Gostei de saber sobre as histórias. Obrigado.

    Publicado em 5 de agosto de 2020 Responder

  • Eduardo Rebelo

    Vi isso também na série de Mangá, Naruto. Há um monumento em homenagem aos Hokages (imperadores).

    Publicado em 8 de junho de 2021 Responder

    • Anônimo

      mano, o quê anime tem a ver com monumento do brasil sobre bandeirantes?

      Publicado em 9 de junho de 2021 Responder

  • Hima Anônima

    Eu tbm vejo Naruto

    Publicado em 4 de agosto de 2021 Responder

  • heitor moreira bartasson

    eu vejo um cavaleiro

    Publicado em 30 de maio de 2023 Responder

  • joao guilherme s

    isso parece um manga do naruto fazendo corrida

    Publicado em 30 de maio de 2023 Responder

  • heitor moreira bartasson

    montado em um cavalo

    Publicado em 30 de maio de 2023 Responder

  • heitor moreira bartasson

    eu vejo um cavaleiro montado em um cavalo

    Publicado em 30 de maio de 2023 Responder

  • gabriel z de oliveira

    No mangá one piece tem também tem uma estatua do stevie rogers

    Publicado em 30 de maio de 2023 Responder

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Marcelo Abreu

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