Um novo integrante da família dos cururus

Recém-descoberta, a espécie Chaunus veredas não é fácil de ser encontrada, pois passa seis meses debaixo da terra, e só sai na época das chuvas. (Crédito: Reuber Brandão).

Há quem afirme que basta encostar em sua pele fria para ser atingido por um líquido que pode matar. Outros garantem que sua urina é capaz de cegar. É, a fama do sapo cururu – ou melhor, das diferentes espécies que são conhecidas popularmente por esse nome – não é das melhores. Mas há uma boa notícia e uma novidade a se contar a respeito desses animais, que são bastante comuns em nosso país. A primeira é que essas histórias contadas sobre o sapo cururu não passam de lenda. E a segunda é que uma nova espécie desse tipo de sapo foi identificada recentemente em nosso país. Trata-se da Chaunus veredas .

Coloridos e inofensivos: o C. veredas macho é amarelo; já a fêmea mistura tons avermelhados ao verde claro. (Crédito: Reuber Brandão).

A nova espécie de sapo cururu é bem colorida: os machos têm o dorso – isto é, “as costas” – amarelo, enquanto as fêmeas misturam tons de um marrom avermelhado e verde claro. Além disso, diferentemente de seus colegas cururus, o C. veredas não apresenta “cristas” – ossos que, unidos, formam uma protuberância no alto da cabeça. Encontrado pelos cientistas primeiro na Bahia, esse anfíbio vive em áreas com vegetação de cerrado, mais precisamente do oeste baiano ao noroeste mineiro.

O biólogo Reuber Brandão, um dos responsáveis pela identificação da nova espécie, explica por que o novo sapo cururu somente foi descoberto agora pelos cientistas. “O C. veredas é um animal difícil de encontrar, já que passa seis meses debaixo da terra. Somente na época das chuvas ele sai para se alimentar e se reproduzir”, conta.

Assim como os outros sapos cururus, a nova espécie não oferece perigo ao ser humano. “Quando pegamos o animal, ele entra em tanatose, ou seja, se finge de morto”, conta Brandão. Essa é a maneira que o anfíbio encontrou para tentar se proteger de predadores, que, se tentarem mordê-lo, terão uma desagradável surpresa. “Ele libera substâncias tóxicas e de sabor ruim”, explica o biólogo.

O C. veredas ganhou esse nome por ter sido descoberto na Bahia, no Parque Grande Sertão Veredas, cenário de um famoso livro de mesmo nome do escritor brasileiro Guimarães Rosa.

O parque protege a vegetação de cerrado, também chamada de savana, que apresenta plantas de aparência seca e algumas árvores, bem como áreas úmidas com presença de buritis, chamadas veredas. Lá, o sapinho encontra a paisagem ideal para viver e se alimentar de gafanhotos, formigas e besouros, o que faz dele um aliado dos agricultores contra algumas pragas que agridem as plantações. Ou seja, além de não oferecer riscos ao ser humano, o sapo recém-descoberto ainda dá uma força para quem quer plantar e colher!

Como os pesquisadores identificam uma nova espécie?
Você viu um bicho interessante, colorido, cheio de características que o fazem muito especial. Mas será que ele tem nome? Será que você pode encontrá-lo nos livros científicos? Reuber Brandão, o biólogo que encontrou o C. veredas , explica como um pesquisador pode identificar uma nova espécie.
O primeiro passo, como explica Brandão, pode ser a intuição e a experiência do pesquisador. Ao ver o sapo amarelo pulando pelo cerrado, ele desconfiou que se tratava de uma espécie nova. Para confirmar a suspeita, Brandão e os biólogos Antonio Sebben e Natan Maciel consultaram a literatura e coleções científicas para comparar as características do sapo encontrado às espécies já descobertas – imagine quanto trabalho!
A partir disso, os pesquisadores chegarem à conclusão de que o sapinho ainda não era conhecido pelo meio científico. Foi, então, a hora de redigir um artigo para descrever a descoberta. O texto foi analisado por vários cientistas e finalmente publicado em uma revista específica. Pronto! Depois de quatro anos, a nova espécie foi “batizada” de Chaunus veredas e reconhecida por cientistas de todo o mundo.

Para saber mais sobre o processo de identificação de uma nova espécie, clique aqui.

Matéria publicada em 22.07.2010

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Fernanda-Alves

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