Um deserto diferente

Quando pensamos em uma área de preservação ambiental, é comum que logo nos venha à mente a imagem de uma floresta exuberante ou um campo repleto de plantas e animais. No entanto, há paisagens naturais que se destacam exatamente por serem muito diferentes daquilo a que estamos acostumados. Este é o caso do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, uma área de preservação que mais se parece com um imenso deserto de areias brancas.

Dunas de areia branca e lagoas de águas transparentes formam a principal paisagem do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. (foto: Jussara Dayrell)

Dunas de areia branca e lagoas de águas transparentes formam a principal paisagem do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. (foto: Jussara Dayrell)

Localizados no litoral do estado do Maranhão, os Lençóis Maranhenses formam o maior campo de dunas – montanhas de areia – da América do Sul. Durante metade do ano, na estação seca, praticamente só o que se vê por todos os lados é areia. Na outra metade do ano, porém, geralmente entre maio e outubro, a paisagem se transforma com as chuvas. Nesse deserto molhado, as dunas passam a dividir espaço com alguns rios e milhares de lagoas de águas rasas e transparentes.

Esse fenômeno ocorre quando as chuvas enchem o lençol freático, um reservatório natural de água subterrânea, até que ele alcance a superfície do solo arenoso, dando origem às lagoas. A formação dos Lençóis é resultado de milhares de anos de um lento trabalho conjunto entre mar, vento e chuva.

A imensidão de morros brancos lembra a imagem de lençóis amarrotados. (foto: Danielle Pereira / Flickr / CC BY 2.0)

A imensidão de morros brancos lembra a imagem de lençóis amarrotados. (foto: Danielle Pereira / Flickr / CC BY 2.0)

Primeiro, as marés depositam na praia uma areia de grãos muito finos. Ao secarem sob o sol, esses grãos são levados pelos fortes ventos alísios, que sopram sempre em direção ao interior do continente. Aos poucos, a areia se acumula em grandes montes, que mudam constantemente de lugar pela ação contínua dos ventos. Por fim, as lagoas formadas pela chuva conferem às dunas o formato de meia-lua e limitam seu crescimento a 20 metros de altura. O resultado é um imenso campo de areia que, visto de cima, parece um grande lençol branco amarrotado.

Uma olhada rápida na paisagem pode dar a impressão de que os Lençóis são uma terra desabitada. Não se engane! Há vida por lá. A maioria dos animais prefere se abrigar nas áreas de vegetação no entorno das dunas. Espécies como o veado-mateiro, a paca e o gato-do-mato habitam as manchas de vegetação, constituídas por cerrados, restingas e manguezais.

A pininga (<i>Trachemys adiutrix</i>) é uma espécie de tartaruga descoberta na década de 1990. Por estar presente apenas na região dos Lençóis Maranhenses, ela é considerada ameaçada de extinção. (foto: Jussara Dayrell)

A pininga (Trachemys adiutrix) é uma espécie de tartaruga descoberta na década de 1990. Por estar presente apenas na região dos Lençóis Maranhenses, ela é considerada ameaçada de extinção. (foto: Jussara Dayrell)

Mesmo nas dunas, um olhar mais atento pode revelar animais escondidos. As praias e lagoas temporárias recebem, por exemplo, a visita de várias espécies de aves migratórias vindas da América do Norte. Essas lagoas também são hábitat de uma espécie rara de tartaruga, conhecida como pininga (Trachemys adiutrix), que ocorre exclusivamente nos Lençóis Maranhenses e áreas próximas.

Até peixes podem ser encontrados nas lagoas temporárias. Sabemos, por exemplo, que algumas espécies chegam às lagoas através de braços de rios que se estendem pelas dunas durante a cheia. Mas a existência de peixes nas lagoas mais isoladas ainda permanece um mistério. Alguns pesquisadores acreditam que ovos ou até mesmo peixes adultos possam resistir enterrados na lama úmida durante a seca. Outra teoria é de que os ovos desses peixes venham aderidos às patas das aves que, assim, colonizam as lagoas a cada estação chuvosa. Qual é a sua hipótese?

Matéria publicada em 06.10.2015

COMENTÁRIOS

  • Anna Elise

    Eu concordo com a hipótese de que talvez os peixes possam resistir enterrados na lama úmida na seca!

    Publicado em 1 de dezembro de 2018 Responder

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Vinícius São Pedro

Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.

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