Tem química no sorvete

Verão chegando, os dias estão cada vez mais ensolarados e quentes: um convite a mergulhar na praia, nadar no rio ou na piscina, descansar na sombra de uma árvore. Em todos esses programas, nada como se refrescar com um sorvete geladinho! E eu, quando faço isso, lembro logo de… química! Já explico o porquê.

Sorvete

A gordura é o ingrediente que dá cara e textura ao sorvete. Aliás, a legislação brasileira determina que todos os sorvetes devem ter pelo menos 3% de gordura, sabia? E há sorvetes em que essa porcentagem chega a 20% (Foto: Catarina Chagas)

O sorvete, assim como o chocolate, é uma paixão mundial, e não é de hoje. Essa guloseima já existia bem antes da invenção da geladeira e, no início, era fabricada com gelo e neve coletados durante o inverno em países de clima frio. No Brasil, o sorvete apareceu por volta de 1834, graças a dois comerciantes do Rio de Janeiro que compravam gelo dos Estados Unidos e fabricavam delícias geladinhas com frutas tropicais.

Microscópio

Imagine colocar sorvete num microscópio. Você veria que a estrutura dessa sobremesa é uma imensa rede formada por gotículas de gordura, proteínas, minúsculas bolhas de ar e cristais de gelo em uma solução concentrada de açúcar (Foto: Wikimedia Commons)

Atualmente, o sorvete é feito basicamente com água (presente na composição do leite ou das frutas incorporadas à receita), adoçante (açúcar ou xarope de milho), leite e gordura de leite – a responsável pela textura macia desta sobremesa. Ao sorvete também podem ser adicionados aromatizantes para dar cheiro e sabor.

Por fim, os sorvetes cremosos contam com um componente pra lá de curioso. Algo entre um quinto e metade de seu volume total é feito de… ar! Isso mesmo que você leu. Esse ingrediente, incorporado à mistura durante os estágios iniciais do congelamento, é fundamental para a textura do produto final.

Se você misturar muito bem os ingredientes e simplesmente levá-los ao congelador, depois de algumas horas terá deliciosos picolés, em vez de sorvete. Para adquirir a deliciosa consistência de sorvete, o ar é fundamental. Os ingredientes são misturados, batidos para a introdução de ar e resfriados lentamente – de tempos em tempos, a mistura é batida novamente para incorporar mais ar.

Fazendo sorvete

O segredo de um sorvete bem macio é fazer com que as gotículas de gordura comecem a interagir entre si. Para isso, são usados agentes emulsificantes – como a gema de ovo –, que retiram as proteínas naturalmente presentes na superfície dos glóbulos de gordura, permitindo que interajam uns com os outros (Foto: Flickr / morethanreal / CC BY-NC-SA 2.0)

Quando a massa é batida, a introdução de ar na mistura ajuda a promover a formação de uma rede de gotículas de gordura, que por sua vez, mantém aprisionadas as bolhas de ar. Já na etapa do resfriamento, minúsculos cristais de gelo se formam na parte aquosa da mistura.

Aliás, nessa fase do preparo do sorvete, outro fenômeno químico acontece. Por causa das altas concentrações de açúcar e sal presentes na mistura, ocorre a redução do ponto de fusão da água, ou seja, da temperatura em que a água congela. Enquanto a água pura congela a zero grau Celsius, no sorvete, a água precisa estar bem mais fria para congelar.

Para você ter uma ideia, a -16 graus Celsius (a temperatura do freezer), apenas 72% da água no sorvete está congelada. Ainda bem: é a presença da solução aquosa na forma líquida que mantém o sorvete na sua consistência cremosa, permitindo, por exemplo, que ele possa ser comido com colher – se toda a água presente na composição do sorvete ficasse congelada, isso seria impossível.

Por fim, os fabricantes ainda possuem um último segredo para fazer com que os sorvetes continuem macios e cremosos mesmo após sair da fábrica: o uso de agentes estabilizantes, como a goma guar e a caragenana. Eles impedem a formação de grandes cristais de gelo se, por acaso, o sorvete descongelar e congelar novamente. Além disso, também aprisionam as bolhas de ar, impedindo que elas escapem durante o descongelamento. Como resultado, ao ser congelado novamente o sorvete mantém sua consistência.

Sorvete

Embora sejam saborosos, os sorvetes devem ser saboreados com moderação. Devido ao seu alto teor de gordura e açúcares, eles podem provocar obesidade e cáries, se consumidos em excesso (Foto: Flickr / sea turtle / CC BY-NC-ND 2.0)

Quanta química cabe em um pote de sorvete, não é mesmo? Agora, se vocês me dão licença, vou ali tomar uma bola de flocos e outra de chocolate!

Matéria publicada em 16.11.2012

COMENTÁRIOS

  • Thaiane Vieira de Araújo Fernandes

    Do ponto de vista físico- químico, em geral o sorvete é constituído basicamente de 10 a 17% de gordura, 8 a 12% de extrato seco desengordurado, 12 a 17% de açúcares ou adoçantes, 0.2 a 0.5% de estabilizantes e emulsificantes e 55 a 65% de água.

    Publicado em 22 de março de 2021 Responder

  • Jadil dos Santos Silva

    Achi muntolegal .
    E bem interesante.

    Publicado em 22 de março de 2021 Responder

  • joao ferreira junior

    E os Corantes?

    Publicado em 17 de outubro de 2021 Responder

  • Laurentino Rodrigues

    Uma bola, parecido com uma granadar ,que em vez de explodir e te mata logo, vai te destruindo devagar, igualmente como as drogas licidas e inlicidas.

    Publicado em 25 de julho de 2022 Responder

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Joab Trajano Silva

Desde criança, o autor da coluna No laboratório do Sr. Q pensava em ser biólogo. Mas, enquanto cursava a faculdade, descobriu que precisava de conhecimentos químicos para entender como os seres vivos funcionam. Juntou as duas coisas e foi ser bioquímico.

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