Quem não gosta de praia?

Temperatura nas alturas, cheiro de protetor solar, gosto de picolé, mate e biscoito de polvilho na boca. Guarda sol, cadeira, canga. Primeiro as brincadeiras, depois a galera. Para muita gente, verão é isso: praia.

Praia do Campinho, em Maraú, na Bahia (Foto: FlaviaC / Wikimedia Commons)

Claro que nem todo mundo gosta de ir à praia e que até há bons sujeitos entre os que não gostam. Mas, em um país como o Brasil, com quilômetros e quilômetros de praias lindíssimas – como a que eu estou agora, na península de Maraú, na Bahia –, ir à praia no verão é algo quase natural.

Engraçado que, se voltássemos uns duzentos anos no tempo, ir à praia como nós vamos hoje não seria nada normal. Muito pelo contrário: tomar banho de mar era muito estranho e usar biquíni ou calção, ainda mais em público, nem pensar! É isto mesmo o que você deve estar pensando: até o lazer tem história.

Esta nossa história começa em 1810, pouco depois de a corte portuguesa chegar ao Rio de Janeiro. Com a perna infeccionada por conta de uma picada de carrapato, o rei dom João VI seguiu as recomendações médicas e tomou um belo banho de mar –dentro de um barril, por medo dos caranguejos — e inaugurou oficialmente a temporada da praia na cidade.

Naquela época, entrar na água salgada para curar doenças era a última moda na Europa, desde que as ideias do médico inglês John Floyer, publicadas no início do século 18 no livro História do Banho Frio, se popularizaram entre os médicos ingleses e franceses. Acreditava-se que o banho de mar curava tudo, de doenças mentais a paralisia. Por que não curaria a perna do rei de Portugal, exilado no Brasil?

Pois curou. O banho de mar terapêutico logo virou mania na alta sociedade carioca, que pagava uma fortuna para entrar na água do mar com todo o conforto e ter um lugar para trocar e guardar as roupas.

Maiô feminino do início do século 20 (Foto: Wikimedia Commons)

No início, todo mundo ia à praia de roupa. Depois, homens e mulheres passaram a usar maiô inteiro. Só mais tarde vieram os maiôs de duas peças e, há uns cinquenta anos, o biquíni. Vocês nem imaginam, mas quando foi inventado, o biquíni foi considerado tão chocante que o presidente do Brasil na época, Jânio Quadros, quis proibi-lo!

Imaginem se a lei pegou? Claro que não. Nem esta nem a outra lei que estabelecia hora certa para ir à praia, no início do século 20: de 5 às 8 horas e de 17 às 19 horas no verão. Com a chegada ao Brasil de esportes como remo e futebol, ninguém dava bola para a restrição, pois todo mundo queria mesmo era ir à praia para jogar bola, depois encontrar os amigos, brincar, namorar…

O bom da praia é isso: não adianta tentar controlar. À praia, cada um vai como quer, quando quer. Na praia, cada um faz o que quer, desde que não suje e não incomode os outros. Praia é espaço de liberdade. E é para lá que eu estou indo agora mesmo. Acabem de ler a coluna e me encontrem lá!

Matéria publicada em 25.01.2013

COMENTÁRIOS

  • jose

    Não vejo sentido em ir à praia. Além da sujeira,protetor,não ter banheiro,água fria e o sol quente,areia ,e pra piorar , o desfile de quem está melhor,mais forte ou mais gostosa que a outra. Isso me dá preguiça. Praia pra mim só o calçadão.

    Publicado em 24 de fevereiro de 2022 Responder

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Keila Grinberg

Quando criança, gostava de visitar a Biblioteca Nacional, colecionar jornais antigos e ouvir histórias da época de seus avós. Não deu outra: hoje é historiadora e escreve para a coluna Máquina do tempo.

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