Preciosos como rubis

O primeiro cão transgênico do mundo (fotos: Reprodução).

Sabe qual o nome da simpática cadela acima? Ruppy! Na foto, ela está com dois meses de idade e, à primeira vista, pode parecer apenas mais um filhote da raça Beagle, a mesma do Snoopy, o famoso personagem dos desenhos animados. Mas não se engane: Ruppy é especial. Sabe por quê? Se você reparar nas unhas e “almofadinhas” de suas patas, notaria que elas são vermelhas, ao contrário do que acontece com qualquer outro Beagle. De longe, parecem até que foram pintadas! Mas não foi isso o que ocorreu…

Na verdade, Ruppy, assim como seus quatro irmãos, tem a capacidade de emitir uma luz vermelha fluorescente por todo o corpo. Essa característica pode ser observada especialmente se essa cadelinha for colocada sob luz ultravioleta. Para você ter uma ideia, até seus órgãos internos emitem uma luz avermelhada nessas condições. Por conta disso, aliás, é que essa cachorrinha ganhou o nome Ruppy: uma mistura, em inglês, das palavras “ruby” (rubi, pedra preciosa de cor vermelha) e “puppy” (filhote).

Não pense, porém, que Ruppy nasceu naturalmente com essa característica. Tem dedo de cientista nessa história e até uma pitada de… mar! Vamos entender o porquê?

Da anêmona para os cães

Todos os animais e plantas têm, dentro de suas células, códigos que os fazem ser do jeito que são. Estamos falando dos genes. Nos cachorros, por exemplo, são os genes que determinam que esses animais vão ter quatro patas, duas orelhas, um rabo, enfim, contar com todas as características físicas que conhecemos. Com as anêmonas-do-mar, bichos que vivem nos oceanos e parecem até plantas à primeira vista, não é diferente. Esses animais, por exemplo, têm um gene que faz com que eles produzam uma proteína que emite uma luz vermelha fluorescente!

As setas indicam como as unhas e as “almofadinhas” das patas de Ruppy são avermelhadas, se comparadas às de um cão comum (à esquerda), mesmo quando não estão expostas à luz ultravioleta.

Sabendo disso, cientistas estrangeiros fizeram o seguinte: eles pegaram esse gene das anêmonas-do-mar e o transferiram para um tipo de célula, chamada fibroblasto, que foi retirada de fetos de cães. Depois, pegaram um tipo de célula reprodutiva – conhecida como ovócito – de cães com idade entre um e cinco anos, retiraram o seu núcleo e o substituíram pelo do fibroblasto. Repetiram esse procedimento várias vezes, para que tivessem células suficientes para conduzir o estudo, as deixaram se dividir em laboratório e, depois, as transferiram para o corpo de cadelas, onde elas se desenvolveram, dando origem a Ruppy e seus irmãos.

Sob luz ultravioleta, toda a pata de Ruppy emite luz vermelha.

Os primeiros!

Os quatro filhotes de Beagle que nasceram a partir daí, tal como as anêmonas-do-mar, produzem uma proteína vermelha fluorescente. Tudo porque receberam o gene que determina que ela seja produzida pelo organismo. Como esse gene, porém, pertence a outro bicho, Ruppy e seus irmãos são considerados animais transgênicos: bichos que receberam genes de outras espécies. Aliás, eles são os primeiros cachorros transgênicos do mundo.

Mas qual o interesse dos cientistas em criar animais assim? Não é pela beleza da cor vermelha, não. Existem muitas doenças que são causadas por defeitos nos genes e que afetam tanto os seres humanos quanto os cães. “Os cachorros apresentam 224 doenças genéticas similares às encontradas em humanos”, contam os autores do estudo no artigo que divulgou o nascimento de Ruppy e companhia, publicado em uma revista chamada Genesis. Por conta dessa característica, acredita-se que usá-los em pesquisas poderia ser algo muito útil no estudo de moléstias genéticas que afetam os seres humanos.

Camundongos verdes e cães vermelhos

Para você ter uma ideia, hoje existem camundongos transgênicos que fabricam uma proteína que produz luz fluorescente verde. Esses animais dão aos cientistas a possibilidade de poder cultivar um tipo de célula e, depois, descobrirem onde ela está. “Suponha, por exemplo, que você deseje saber como uma célula migra no organismo ou onde ela vai parar após ser injetada na circulação. Se você dispuser de tais células, vai poder acompanhar sua migração simplesmente detectando quais células fluorescem quando iluminadas com luz ultravioleta”, explica o bioquímico Franklin Rumjanek, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cães transgênicos, como Ruppy e seus irmãos, seguramente serão usados de uma maneira parecida. Para você ver que os cachorros também podem ser os melhores amigos da ciência!

Matéria publicada em 15.05.2009

COMENTÁRIOS

Envie um comentário

Mara Figueira

CONTEÚDO RELACIONADO

Um mergulho com os peixes

Acompanhe o final da aventura de Rex, Diná e Zíper e suas descobertas no fundo do mar.