Perdendo as cores

Há alguns meses escrevi uma matéria sobre os corais. Eles são lindos, coloridos e ficam tão paradinhos que, muitas vezes, são confundidos com plantas ou até pedras (veja mais em “Pedra ou planta?”). Naquela ocasião, mencionei que muitos desses animais, principalmente de locais rasos, possuem microalgas que vivem dentro deles, as chamadas zooxantelas. Tanto o coral quanto as algas microscópicas ganham com essa relação, já que os corais fornecem abrigo para as algas, enquanto elas dão quase todo o alimento aos corais, contribuindo para a sua saúde.

As microalgas (zooxantelas) fornecem grande parte do alimento necessário para a saúde dos corais e são responsáveis pelas belas cores dos aglomerados desses animais, chamados recifes. (foto: João Paulo Krajewski)

As microalgas (zooxantelas) fornecem grande parte do alimento necessário para a saúde dos corais e são responsáveis pelas belas cores dos aglomerados desses animais, chamados recifes. (foto: João Paulo Krajewski)

Os corais são formados por um esqueleto interno branco, coberto por um tecido vivo transparente, e os lindos padrões coloridos desses animais são, na verdade, dados pelas microalgas. Porém, nem tudo são flores nessa relação. Os corais são sensíveis à luminosidade, temperatura e poluição da água. Se as condições não são ideais, eles sofrem um tipo de “estresse” e expulsam as zooxantelas de seu corpo, um fenômeno que os deixam branqueados ou pálidos. Quando as condições ambientais voltam à normalidade em pouco tempo, os corais geralmente recuperam as algas microscópicas. Porém, se a situação de estresse se prolongar, os corais podem permanecer branqueados por muito tempo, o que pode afetar (e muito!) a sua saúde.

Em determinadas situações, os corais se estressam e expulsam as microalgas, tornando-se branqueados ou pálidos, como essa colônia de <i>Acropora</i> sp.. (foto: Roberta Bonaldo)

Em determinadas situações, os corais se estressam e expulsam as microalgas, tornando-se branqueados ou pálidos, como essa colônia de Acropora sp.. (foto: Roberta Bonaldo)

Sem as microalgas em seu organismo, o coral nem sempre consegue todo o alimento necessário para se manter saudável, e fica mais fraco e suscetível a predadores, doenças e outras mazelas. Em casos extremos, o coral pode até morrer! O mais preocupante é que o branqueamento de corais pode ser causado pelo aumento de apenas um grau na temperatura média da água do mar.

No Brasil, um dos principais corais, o cérebro da Bahia (Mussismilia braziliensis), tem se mostrado resistente ao branqueamento durante os episódios de aquecimento do mar dos últimos anos. Porém, outros corais não tiveram a mesma sorte. Na Austrália, por exemplo, muitos corais da Grande Barreira sofreram branqueamento devido ao aquecimento de 2016.

O coral cérebro da Bahia (<i>Mussismilia braziliensis</i>), à esquerda, tem se mostrado resistente ao branqueamento no Brasil. Porém, muitos corais do Oceano Pacífico foram afetados pelo fenômeno nos últimos anos (à direita). (fotos: João Paulo Krajewski)

O coral cérebro da Bahia (Mussismilia braziliensis), à esquerda, tem se mostrado resistente ao branqueamento no Brasil. Porém, muitos corais do Oceano Pacífico foram afetados pelo fenômeno nos últimos anos (à direita). (fotos: João Paulo Krajewski)

As pesquisas dos cientistas indicam que atividades humanas, como a emissão de gás carbônico pela queima de combustíveis fósseis, como a gasolina, têm contribuído muito para o aquecimento das águas oceânicas. Por isso, a saúde dos recifes de corais depende da adoção de políticas ambientais que diminuam o nosso impacto no planeta. Somente assim os recifes de corais seguirão coloridos e saudáveis por muito tempo.

Matéria publicada em 03.03.2017

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Amanda Ercília de Carvalho e Roberta Bonaldo

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