O outro lado da África

Uma rainha muito corajosa que, em pleno século 17, resistiu à invasão portuguesa e liderou bravamente seu povo. Esta foi Ngola Nzinga, soberana dos reinos do Ndongo e Matamba, localizados na região onde hoje fica Angola, na África – notou a semelhança nos nomes? Para os portugueses, ela era a rainha Ginga, ou ainda Ana de Sousa, nome que recebeu dos representantes europeus nas negociações a respeito do território que comandava. E esta é apenas uma personagem das muitas histórias curiosas da tradição africana, que pouca gente conhece por aqui.

Porto de Luanda, capital de Angola. O país está hoje onde antes foi o reino da rainha Ginga. (Foto: David Stanley / Flickr / <a href=https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/>CC BY 2.0</a>)

Porto de Luanda, capital de Angola. O país está hoje onde antes foi o reino da rainha Ginga. (Foto: David Stanley / Flickr / CC BY 2.0)

Geralmente, quando ouvimos falar da África, a lembrança mais marcante – e dolorida – que temos é a que de lá vieram muitas pessoas escravizadas na época em que o Brasil ainda era uma colônia de Portugal. Muita gente ignora que o continente tem história e cultura riquíssimas, cheias de detalhes superinteressantes. Divulgar a África para além do óbvio é um dos objetivos do portal Afreaka, um projeto que nasceu da união de jornalistas e artistas ansiosos por compartilharem essas informações com os brasileiros.

“Se você fizer o exercício de procurar notícias sobre África em qualquer lugar, o resultado são mazelas e problemas. Não negamos os problemas que lá existem, mas será que um continente com 54 países e berço da humanidade vive apenas de tragédias?”, questiona o jornalista Kauê Vieira, um dos responsáveis pelo portal. “Queremos mostrar para o Brasil uma África que não encontramos nos meios de comunicação”.

As bonecas <i>Abayomi</i> eram confeccionadas pelas mães africanas para consolar e sossegar os filhos durante as viagens de África para o Brasil, onde seriam comercializados como escravos. (Foto: Divulgação)

As bonecas Abayomi eram confeccionadas pelas mães africanas para consolar e sossegar os filhos durante as viagens de África para o Brasil, onde seriam comercializados como escravos. (Foto: Divulgação)

Desde as bonecas Abayomi – confeccionadas de acordo com uma tradição antiga nascida durante o transporte de escravos entre África e Brasil – até os jovens estudantes nigerianos que inovam com moderna tecnologia no CC Hub, o primeiro laboratório criativo da Nigéria, o Afreaka mostra quão diverso é o continente africano.

Com textos, vídeos e dicas culturais que carregam o visitante para o outro lado do oceano Atlântico, a iniciativa também mantém um perfil no Instagram com belíssimas imagens do continente e vai além do mundo virtual. “Já realizamos mais de 50 oficinas, palestras e cursos sobre a África em universidades, escolas, centros culturais e outros, além de exposições e um festival inédito que juntou grandes nomes da arte africana e afro-brasileira”, conta a jornalista Flora Pereira da Silva, uma das envolvidas no projeto.

Se, visitando o Afreaka, você se sentir em casa, não estranhe. A África está na nossa língua, na nossa música e nas nossas ruas. “Muitas vezes as pessoas nem fazem ideia de quão próximas são da África. Está no nosso sangue, mas, sobretudo, está na nossa cultura, no que comemos, no jeito que pensamos a sociedade, a família, até mesmo em muitas de nossas palavras. É preciso que reconheçamos a África em nós”, convida Flora.

Matéria publicada em 21.08.2015

COMENTÁRIOS

  • Marta

    Adorei saber sobre este portal, acessei e gostei bastante. Assinei para receber o news online. Muito obrigada

    Publicado em 18 de outubro de 2021 Responder

  • Valéria Paixão

    A boneca Abayomi foi criada por Lena Martins uma artesã brasileira. Não sei como as pessoas conseguem pensar, ou até querem romantizar que as mulheres escravizadas vinham para o Brasil de uma forma tão tranquilas que pudesse fazer bonecas de pano….

    Publicado em 20 de junho de 2023 Responder

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Everton Lopes

Adoro viajar e ler. Quando era pequeno queria ser escritor, hoje, posso escrever sobre um monte de coisas novas que eu descubro aqui na CHC!

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