Hóspedes indesejadas

As baratas estão em todos os lugares: nas paredes, no chão, nas redes de dormir, nos pratos de comida, nos resíduos de alimentos – essa foi a primeira impressão que o biólogo Wilson Uieda, da Universidade Estadual Paulista, teve quando chegou às aldeias Apterewa Kayapó, no Pará, e Matokodakwa Enawé-nawé, no Mato Grosso.

Nas aldeias, as baratas encontraram um ambiente muito propício para se desenvolver – por exemplo, devido ao costume dos índios de deixar resíduos de comida dentro das ocas. O fato de eles dormirem no mesmo espaço onde guardam a comida colaborou para que as Blatella germanica se adaptassem rapidamente ao novo ambiente e dessem início aos ataques (Fotos cedidas pelos pesquisadores)

Nas aldeias, as baratas encontraram um ambiente muito propício para se desenvolver – por exemplo, devido ao costume dos índios de deixar resíduos de comida dentro das ocas. O fato de eles dormirem no mesmo espaço onde guardam a comida colaborou para que as Blatella germanica se adaptassem rapidamente ao novo ambiente e dessem início aos ataques (Fotos cedidas pelos pesquisadores)

Além de ser muito desagradável, a infestação de insetos têm trazido também complicações de saúde, pois as baratas da espécie Blatella germanica chegam a morder os índios que vivem nessas comunidades, especialmente as crianças.

Segundo Wilson, essa barata não é um animal silvestre, e sim uma espécie comum nos ambientes urbanos de todo o mundo. Como será, então, que elas chegaram às aldeias de nossos índios, se as duas fazem parte de reservas protegidas?

“As baratas foram trazidas por causa do contato constante que as aldeias têm com as cidades mais próximas”, explica o pesquisador. “O inseto foi introduzido no ambiente indígena, adaptou-se rapidamente e logo infestou as moradias”.

Além das mordidas, outro problema trazido pelas baratas está relacionado aos alimentos. A <i>Blatella germanica</i> libera uma secreção que deixa a comida imprópria para o consumo.

Além das mordidas, outro problema trazido pelas baratas está relacionado aos alimentos. A Blatella germanica libera uma secreção que deixa a comida imprópria para o consumo

O dermatologista Vidal Haddad Júnior, que também visitou as aldeias, contou à CHC que as mordidas só acontecem quando há um grande número de insetos. As baratas atacam principalmente durante o sono e muitas ficam escondidas nas redes de dormir.

Das 78 pessoas examinadas nas duas aldeias, 12 tinham sido atacadas pelas baratas. “Nove eram crianças. Por terem o sono mais pesado que o dos adultos, elas ficam mais vulneráveis aos ataques”, alerta Wilson.

Como não têm dentes, as baratas usam a força da mandíbula para fazer uma espécie de raspagem. Elas se alimentam, por exemplo, da queratina da unha e da pele ao seu redor. As feridas se parecem arranhões, ficam doloridas e coçam

Como não têm dentes, as baratas usam a força da mandíbula para fazer uma espécie de raspagem. Elas se alimentam, por exemplo, da queratina da unha e da pele ao seu redor. As feridas se parecem arranhões, ficam doloridas e coçam

Para conter a infestação, o pesquisador criou armadilhas com farinha de trigo, queijo, cebola e ácido bórico. Misturou como uma massa de pão e colocou um pedacinho em cada fresta da oca. As baratas logo comeram o veneno e, em três dias, começaram a morrer.

Infelizmente, o problema não estava resolvido. “Seis meses depois, a aldeia dos Enawé-nawé teve que ser evacuada e as ocas feitas de palha foram queimadas”, lamenta Wilson. Ele e Vidal concordam que apenas matar as baratas não é o suficiente – é preciso adotar métodos de higiene que não deixem os insetos se espalharem tanto.

Matéria publicada em 11.09.2013

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Fernanda-Tavora

Sou curiosa até não poder mais! Gosto de conhecer diversos assuntos e, aqui na CHC, aprendo mais e mais todos os dias.

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