Conversa de guigó

Então um dia, na floresta, um macaco disse ao outro: “Cuidado! Predador à vista. É uma onça e está em cima da árvore!” Pode parecer que estou começando uma fábula, mas não é nada disso – cientistas mostraram que os macacos guigós realmente informam seus companheiros quando surge um perigo à frente.

Guigós

Os guigós são primatas de até 60 centímetros de comprimento que andam na mata com suas famílias em busca de frutos (Foto: Cristiane Cäsar)

Calma, eles não falam português. A vocalização deles não é nem de longe parecida com a nossa. Mas os sons emitidos pelos guigós não são sempre iguais. Cada um deles tem um significado.

Guigó

Ouvindo as gravações em um computador, a pesquisadora descobriu o falatório detalhado dos guigós (Foto: Cristiane Cäsar)

Durante o dia, esses primatas andam em grupos de até seis indivíduos. A bióloga Cristiane Cäsar, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, descobriu que aqueles que vão à frente do grupo – geralmente o casal da família – emitem sons diferentes para cada tipo de predador que encontram pelo caminho.

Existe um som para predadores aéreos, como águias, e outro para os terrestres, como onças. Eles também emitem sons específicos que indicam a localização da ameaça, como, por exemplo, em cima da árvore ou no chão.

Cristiane fez a descoberta depois de passar um ano na Mata Atlântica da Reserva do Caraça, em Minas Gerais, seguindo e observando o comportamento de cinco grupos de guigós da espécie Callicebus nigrifrons. “Eu colocava dois predadores empalhados no caminho deles – um gavião e um gato-do-mato – e gravava os sons que faziam para cada um”, conta.

Foi ao analisar as gravações em programas de computador que a bióloga percebeu que os primatas faziam um barulho específico para cada situação ameaçadora. Os cientistas já sabiam que o sistema vocal desses animais era complexo, mas não imaginavam que eles tinham uma comunicação tão precisa.

Se você ficou surpreso com a notícia, saiba que os guigós não são os únicos animais falastrões. Suricatos e algumas aves também já foram vistos alertando seus companheiros sobre ameaças. Agora, imagina essa bicharada toda conversando junto! Haja papo na floresta…

Matéria publicada em 25.11.2013

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Camille-Dornelles

Quando criança, gostava de fazer experimentos dentro de casa e explorar o mundo. Hoje, na CHC, me sinto brincando de cientista e trabalhando como jornalista ao mesmo tempo.

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