Um nome para a maior de todas as araras

A arara-azul-grande não tem esse nome à toa. Para começo de conversa, seu corpo é quase todo coberto por penas azuis-escuras. Além disso, essa espécie pode ter até um metro de comprimento, o que lhe garante o troféu de maior arara do mundo!

Em nosso país, a arara-azul-grande é encontrada na região leste da Amazônia, no Pantanal e também no Cerrado do Brasil central, alcançando os estados do Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, oeste da Bahia, Goiás, norte e noroeste de Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Essa espécie vive ainda na Bolívia e no Paraguai. Mas quem disse que ela mora no interior das florestas? Essa ave gosta é das bordas de matas, beiras de rios e áreas com muito buriti, palmeira típica do cerrado.

Os índios chamam a arara-azul-grande de ararauna, que significa “arara preta”. Isso porque a parte de baixo das asas da arara-azul-grande é negra. Além disso, ao ser vista ao longe, essa ave parece toda preta e não azul-escura (foto: Guilherme Ortiz)

Tudo a ver
O nome científico da arara-azul-grande é Anodorhynchus hyacinthinus. Difícil de ler, não? Mas tem tudo a ver com ela. Em grego, Anodorhynchus significa “focinho (ou, nesse caso, “bico”) sem dentes”. Nenhuma ave tem dentes. Porém, o bico de certas araras apresenta serrinhas, como se fossem pequenos dentes. Não é o caso de Anodorhynchus. Seu bico é mais liso, sem essas serras. Daí o seu nome.

Já a palavra hyacinthinus é uma referência à cor da arara-azul-grande e significa “de jacinto”. Para explicar a sua origem, precisamos voltar à Grécia antiga, falar sobre uma planta e até sobre uma pedra preciosa. Acompanhe!

Conta uma antiga lenda grega que, quando o jovem Jacinto (Hyakinthos, em grego) morreu, o deus Apolo transformou as gotas de sangue do rapaz, que caiam no solo, em uma flor de cor roxa.

A cor da planta conhecida como jacinto é semelhante à da arara-azul-grande (foto: Wikimedia Commons).

Há plantas chamadas jacinto e é provável que elas tenham sido batizadas assim por conta dessa história. Afinal, algumas têm flores roxo-azuladas e todas pertencem ao gênero chamado Hyancinthus, nome que, repare, lembra o do jovem Jacinto em grego (Hyankinthos). Como o nome específico da arara-azul-grande – hyacinthinus – também é parecido com o do gênero dessas plantas, acredita-se que ele possa fazer referência à semelhança entre a cor das penas da ave e as flores do jacinto.

Entre a flor e a pedra preciosa

Há dúvidas, no entanto, se esse nome não se refere, na verdade, a uma pedra preciosa também conhecida como jacinto. Essa pedra surge a partir do zircão, um mineral que pode apresentar diversas cores, entre elas, o azul. Assim sendo, talvez o nome específico da arara-azul-grande faça referência não à cor de uma flor, mas a de uma pedra preciosa, que pode ser o jacinto ou até mesmo a safira. Na antiguidade, muita gente achava que a safira – outra pedra preciosa azul – fosse um tipo de jacinto, embora isso não seja verdade.

É provável que parte do nome científico da arara-azul-grande tenha sido inspirada também na pedra preciosa conhecida como jacinto (foto: Jeff Schultz).

 

Infelizmente, o pesquisador John Latham, que descreveu a arara-azul-grande em 1790, não explicou, em seu trabalho, por que escolheu a palavra hyacinthinus para compor o nome científico dessa espécie. Então, só temos como levantar hipóteses a esse respeito – o que não deixa de tornar o nome científico dessa espécie ainda mais curioso. Afinal, nada como bancar o detetive e tentar descobrir, séculos depois, o que inspirou um cientista na hora de batizar a maior arara do mundo, você não acha?!

Matéria publicada em 10.03.2010

COMENTÁRIOS

  • Alice s

    adorei eses textos vao ser maravilhosos para o meu trabalho de ciensia

    Publicado em 14 de outubro de 2021 Responder

  • Emily da Silva Celestino

    Eu adorei sobre a arara- azul eu amei e entre a flor e a pedra preciosa eu amei muito eu gostaria que vocês também façam sobre os papagaios e os periquitos . Muito obrigado

    Publicado em 5 de dezembro de 2021 Responder

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Henrique Caldeira Costa

Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a gente na coluna O nome dos bichos

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