— Papai, quando é que a ciência vai acabar?

— Como assim, meu filho?

— Vai ter um momento em que os cientistas vão dizer “pronto, agora já descobrimos tudo o que há para se descobrir, e já sabemos como TUDO funciona no mundo”?

— Hmm. Boa pergunta, filhão. Eu não sei a resposta.

Além do horizonte e das próprias estrelas: você já parou para pensar em qual é o limite para o conhecimento humano? (foto: Nasa/Wikimedia)

— Não?

— Não. Como a gente ainda não sabe tudo o que tem para ser descoberto, é difícil imaginar  quanto tempo vai levar para descobrir, ou mesmo SE a gente vai conseguir descobrir um dia.

— É possível que a gente não descubra alguma coisa?

— Por que não seria?

— Não sei, os cientistas não estão sempre fazendo novas descobertas científicas?

— Sim, mas até o dia em que alguém descobriu alguma coisa, todos os dias anteriores foram dias-de-não-descobrir aquela coisa, não é?

— É verdade, mas no final das contas…

— Há quem ache até que isso NUNCA vai acabar, e que sempre haverá algo a ser descoberto. Basta lembrar que, até hoje, todas as respostas encontradas pela ciência também foram o início de muitas outras perguntas…

— Mas às vezes os cientistas já sabem que vão descobrir alguma coisa, não é?

— Mais ou menos. Por exemplo, recentemente cientistas detectaram o bóson de Higgs e, mais recentemente ainda, ondas gravitacionais. De fato, eles acreditavam que essas coisas existiam e apenas ainda não tinham sido confirmadas por meio de experimentos. Foram construídos instrumentos gigantescos e muito caros justamente com este objetivo. Mas nada garantia que eles conseguiriam detectá-los.

Depois de pisar na lua, a humanidade tenta chegar até Marte nos próximos anos. Será que a busca por conhecimento científico terá um fim? (foto: Nasa/Wikimedia)

— E por que é que os cientistas achavam que essas coisas existiam?

— Porque se elas não existissem as teorias elegantes que eles desenvolveram ao longo de muitos anos de trabalho, por sua vez baseadas em muitos resultados obtidos por outros cientistas, estariam erradas, ou não poderiam mais ser tão elegantes.

— E as teorias precisam se arrumar para ficar elegantes?

— Mais ou menos isso, hehe. Neste caso, “se arrumar” significa que os cientistas buscam o máximo de simplicidade. Partindo de um número pequeno de conceitos e leis naturais devidamente ligados uns aos outros, essas teorias tentam explicar o máximo possível de situações, experimentos e observações que colecionamos sobre o mundo natural.

— E por que é que tem que ser assim?

— Não tem que. É só o que os cientistas acham. É um princípio filosófico: os cientistas acham que o mundo deve ser simples. Ou pelo menos o mais simples possível. Mais que filosófico, acho que é um princípio estético.

— “Estético”?

— É, quer dizer que fica bonito.

— Os cientistas acham que as teorias deles são bonitas?

— Acho que sim. Pelo menos as que funcionam.

— Você acabou não respondendo direito quando a ciência vai acabar. Mas não se preocupe, eu vou procurar na internet.

— Você não vai achar isso assim na internet, meu filho. É mais importante que você pense por você mesmo.

— Claro que vou achar na internet, pai. Com certeza alguém já pensou nisso e colocou lá.

— Todo mundo já pensou em tudo e colocou na internet?

— Ué, claro.

— Taí, filho, é assim que a ciência vai acabar.