Jardim do Brasil

Você já ouviu falar na Cadeia do Espinhaço? Também chamada de “cordilheira brasileira”, é uma cadeia de montanhas com mais de 1.000 quilômetros de extensão, ligando a região central de Minas Gerais ao norte da Bahia. Por sua grande importância biológica, histórica, geológica e cultural, esta região é reconhecida internacionalmente como uma Reserva da Biosfera. Vários trechos estão protegidos em áreas de preservação como o Parque Nacional da Serra do Cipó.

Os campos rupestres são formações típicas de regiões montanhosas e possuem grande diversidade de plantas e animais. (foto: Mariano Vale / Flickr /  CC BY-SA 2.0)

Os campos rupestres são formações típicas de regiões montanhosas e possuem grande diversidade de plantas e animais. (foto: Mariano Vale / Flickr / CC BY-SA 2.0)

A história da Serra do Cipó começou com a formação da Cadeia do Espinhaço, cerca de 2 bilhões de anos atrás. A presença humana veio muito depois: há uns 10 mil anos, chegaram ali povos que viviam da caça e da coleta de frutos e de outros alimentos. Esqueletos e pinturas rupestres encontrados nesta região estão entre os mais antigos registros da humanidade na América do Sul.

Já no século 18, as montanhas da Serra do Cipó foram desbravadas pelos bandeirantes à procura de ouro e pedras preciosas. Estradas, trilhas e antigas fazendas ainda persistem na região como heranças daquela época. Um pouco mais tarde, no século 19, foi a vez de os naturalistas europeus explorarem a Serra do Cipó atraídos por outra de suas muitas riquezas – a biodiversidade.

Os afloramentos rochosos são parte da paisagem típica da Cadeia do Espinhaço, inclusive do Parque Nacional da Serra do Cipó. (foto: Morceg@o / Flick / CC BY-NC-ND 2.0)

Os afloramentos rochosos são parte da paisagem típica da Cadeia do Espinhaço, inclusive do Parque Nacional da Serra do Cipó. (foto: Morceg@o / Flick / CC BY-NC-ND 2.0)

A Serra do Cipó, assim como toda a Cadeia do Espinhaço, sempre chamou a atenção por sua paisagem única, formada predominantemente pelos campos rupestres. Neles, uma enorme diversidade de plantas divide espaço com os afloramentos rochosos, conjuntos de pedras pontiagudas que parecem brotar do solo, apontando geralmente para uma mesma direção. Mas o que mais chama a atenção dos pesquisadores na Serra do Cipó é o seu grande número de espécies endêmicas, ou seja, que são encontradas apenas nesta região.

Entre os animais endêmicos da Serra do Cipó estão a rãzinha <i>Physalaemus deimaticus</i> (à esquerda) e os lagartos <i>Placosoma cipoense</i> (acima) e <i>Ameivula cipoensis</i> (abaixo). Para proteger essas espécies raras foi criado o Plano de Ação Nacional para conservação dos répteis e anfíbios da Cadeia do Espinhaço. (fotos: cortesia dos autores)

Entre os animais endêmicos da Serra do Cipó estão a rãzinha Physalaemus deimaticus (à esquerda) e os lagartos Placosoma cipoense (acima) e Ameivula cipoensis (abaixo). Para proteger essas espécies raras foi criado o Plano de Ação Nacional para conservação dos répteis e anfíbios da Cadeia do Espinhaço. (fotos: cortesia dos autores)

Em relação à fauna, cerca de 20 espécies, entre anfíbios, lagartos, aves e insetos são exclusivas da Serra do Cipó. Uma delas é a curiosa rãzinha que utiliza o “bumbum” pra se defender – quando se sente ameaçada, levanta a parte traseira do corpo e exibe duas grandes manchas circulares, que lembram olhos enormes e assustam os predadores.

Uma das plantas endêmicas do Parque Nacional da Serra do Cipó é a pequena orquídea <i>Constantia cipoensis</i>, considerada criticamente ameaçada de extinção.  (foto: Luis Bar)

Uma das plantas endêmicas do Parque Nacional da Serra do Cipó é a pequena orquídea Constantia cipoensis, considerada criticamente ameaçada de extinção. (foto: Luis Bar)

Mas as grandes estrelas da Serra do Cipó são as plantas. Certa vez, um famoso artista plástico e paisagista chamado Roberto Burle Marx, encantado com a beleza e diversidade de plantas ali encontradas, se referiu à região como “o jardim do Brasil”. O que talvez ele não soubesse é que muitas daquelas plantas não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do mundo. Mais de 70 espécies, entre orquídeas, bromélias, sempre-vivas, cactos e algas, são endêmicas da Serra do Cipó. Um jardim exclusivo e protegido nas montanhas de Minas Gerais.

Matéria publicada em 08.06.2016

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Vinícius São Pedro

Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.

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