Haja imaginação

Na hora de dar nome a uma espécie recém-descoberta, os taxonomistas podem soltar a imaginação. Os nomes científicos devem possuir apenas letras do alfabeto latino (o nosso abecedário) e podem ter origem em qualquer língua, embora o grego e o latim sejam usados com mais frequência. Um nome científico pode até mesmo não significar nada e ser formado por uma combinação de letras, desde que seja pronunciável, como Aaaba.

Nomes científicos podem ser curiosos e não possuírem significado algum, como é o caso de <i>Zyzzyzus</i>, um gênero de invertebrados marinhos. (foto: Alvaro Migotto / Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo / CC BY-NC-SA 3.02)

Nomes científicos podem ser curiosos e não possuírem significado algum, como é o caso de Zyzzyzus, um gênero de invertebrados marinhos. (foto: Alvaro Migotto / Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo / CC BY-NC-SA 3.02)

É comum vermos nomes científicos formados por palavras que indiquem uma característica do animal, como melanocephala (“cabeça preta” em grego). Ou, então, nomes que façam referência ao lugar onde a espécie foi descoberta, como cerradensis (“do Cerrado”, em latim). Muitas vezes, os pesquisadores fazem uma homenagem, colocando na nova espécie o nome de uma pessoa que admiram – outro pesquisador, um parente e até mesmo uma celebridade.

Muitas espécies têm nomes que remetem a uma característica física. Outras possuem nomes em homenagem a alguma pessoa. A ararinha-azul (<i>Cyanopsitta spixii</i>) tem um nome que faz as duas coisas: <i>Cyanopsitta</i> significa “papagaio azul-esverdeado” em grego, e <i>spixii</i> é uma homenagem ao naturalista Johann Baptist von Spix, que pesquisou a fauna brasileira no século 19.  (foto: Gloria Jafet / Fundação Parque Zoológico de São Paulo)

Muitas espécies têm nomes que remetem a uma característica física. Outras possuem nomes em homenagem a alguma pessoa. A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) tem um nome que faz as duas coisas: Cyanopsitta significa “papagaio azul-esverdeado” em grego, e spixii é uma homenagem ao naturalista Johann Baptist von Spix, que pesquisou a fauna brasileira no século 19. (foto: Gloria Jafet / Fundação Parque Zoológico de São Paulo)

Nos séculos 18 e 19, também era comum dar a uma nova espécie o nome de algum personagem mitológico, como monstros e heróis. Os tempos mudaram, e hoje os pesquisadores muitas vezes dão a uma nova espécie o nome de personagens de filmes, livros ou histórias em quadrinhos.

Mesmo com tantas opções – praticamente infinitas – tem pesquisador que acha complicado escolher o nome de uma nova espécie, principalmente se tiver que nomear muitas de uma vez. Foi o que aconteceu com Alexander Riedel e seus colegas, que publicaram em 2013 a descoberta de 101 espécies novas de besouros!

Todas elas foram encontradas na Nova Guiné, uma grande ilha da Oceania, e pertencem ao gênero Trigonopterus (“asa triangular”, em grego). Para diferenciar umas das outras, os pesquisadores usaram métodos que fazem a leitura do DNA, e também examinaram em detalhes as características do corpo de cada bicho, especialmente os órgãos reprodutivos.

Os besouros do gênero <i>Trigonopterus</i> são bem pequenos: medem entre 1 e 6 milímetros apenas. São encontrados no sudeste da Ásia e na Oceania, e vivem principalmente em florestas. (foto: Zookeys / CC BY 3.0)

Os besouros do gênero Trigonopterus são bem pequenos: medem entre 1 e 6 milímetros apenas. São encontrados no sudeste da Ásia e na Oceania, e vivem principalmente em florestas. (foto: Zookeys / CC BY 3.0)

Na hora de batizar tantas espécies, os autores da descoberta começaram usando a imaginação. Deram a uma delas o nome Trigonopterus aeneipennis (“asas de cobre”, em latim), em referência à cor dos élitros, o primeiro par de asas dos besouros. Já Trigonopterus agilis (“ágil”, em latim) foi assim chamada por causa de sua velocidade, quando comparada às demais espécies. Por outro lado, Trigonopterus balimensis tem seu nome em referência ao rio Balim, que corre pela área onde a espécie é encontrada.

<i>Trigonopterus attenboroughi</i> é uma espécie encontrada apenas no monte Bawang, na ilha de Bornéu. Seu nome é uma homenagem a Sir David Attenborough, ambientalista e apresentador de documentários sobre a natureza. (foto: Zookeys / CC BY 3.0)

Trigonopterus attenboroughi é uma espécie encontrada apenas no monte Bawang, na ilha de Bornéu. Seu nome é uma homenagem a Sir David Attenborough, ambientalista e apresentador de documentários sobre a natureza. (foto: Zookeys / CC BY 3.0)

Dezenas de espécies de Trigonopterus receberam nomes que sugerem alguma característica que possuem ou da região que habitam. Mas chegou um momento em que a imaginação dos pesquisadores para criar novos nomes acabou – lembre-se, foram 101 de uma só vez. Então, eles pegaram uma lista telefônica e começaram a escolher nomes das famílias da região, como Hitolo, Leki e Wari. Surgiram assim os nomes Trigonopterus hitoloorum, T. lekiorum e T. wariorum, entre outros.

Algumas espécies do gênero <i>Trigonopterus</i> receberam nomes dos numerais 1 a 12 na língua indonésia. Na foto, da esquerda para a direita, <i>T. duo</i> (“dois”), <i>T. enam</i> (“seis”), e <i>T. empat</i> (“quatro”). (foto: Zookeys / CC BY 3.0).

Algumas espécies do gênero Trigonopterus receberam nomes dos numerais 1 a 12 na língua indonésia. Na foto, da esquerda para a direita, T. duo (“dois”), T. enam (“seis”), e T. empat (“quatro”). (foto: Zookeys / CC BY 3.0).

Em 2014, a mesma equipe de cientistas apresentou outra grande descoberta: mais 98 espécies de Trigonopterus sendo nomeadas! Algumas delas receberam os nomes dos numerais 1 a 12 na língua indonésia: Trigonopterus satu, T. dua, T. tiga, T. empat, e por aí vai! Ao menos dessa vez, não foi preciso usar a lista telefônica…

Matéria publicada em 10.06.2016

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Henrique Caldeira Costa

Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a gente na coluna O nome dos bichos

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