Experimentos cruciais? Cruzes!

(Esta é a parte final de um longo diálogo entre pai e filho. Confira: parte 1, parte 2 e parte 3.)

– Pai, outro dia descobri o “efeito Mpemba”, que acontece quando a água morna congela mais rápido do que a água fria. É comum que os cientistas façam experimentos e encontrem resultados surpreendentes como esse?

– Acho que não, filho. O mais comum é os cientistas fazerem experimentos e encontrarem resultados que eles já esperavam, que confirmam as teorias prévias.

– Então, a maior parte dos experimentos não serve para nada?

– Eu não diria que não serve “para nada”. Confirmar que uma teoria está certa também tem seu valor. Além disso, às vezes a teoria prevê algumas coisas, mas não em todos os detalhes. Daí o resultado do experimento pode introduzir dados novos para os cientistas.

– Mas só quando as previsões vão para o beleléu é que os experimentos ficam realmente legais, não é?

Experimentos cruciais são aqueles nos quais os cientistas conseguem provar de forma segura que uma hipótese ou teoria é melhor do que as outras. Na imagem, a pintura de Sascha Grushe representa Isaac Newton realizando experimentos com prismas. (imagem: Wikimedia Commons)

Experimentos cruciais são aqueles nos quais os cientistas conseguem provar de forma segura que uma hipótese ou teoria é melhor do que as outras. Na imagem, a pintura de Sascha Grushe representa Isaac Newton realizando experimentos com prismas. (imagem: Wikimedia Commons)

– Hum… Não sei. Um resultado surpreendente obriga os cientistas a voltar à prancheta e pensar em novas teorias para explicar os resultados. Mas há outro tipo de experimento que também é muito legal, e ocorre quando há duas ou mais teorias que fazem previsões diferentes para o resultado de um mesmo experimento. Nesses casos raros, normalmente o resultado é celebrado como um marco histórico, pois, a partir dos resultados, os cientistas têm bons motivos para abrir mão de uma teoria e confiar mais na outra.

– Uau! Então existem experimentos em que uma teoria compete contra a outra num duelo mortal?

[Risos!] – Acho que pode-se dizer que sim. Quando é possível imaginar um experimento desse tipo, ele ganha um nome especial: “experimento crucial”.

–  Cruzes!

–  Sim, cruzes! O nome vem daí, mesmo. É como se a ciência se encontrasse numa encruzilhada e o resultado do experimento permitisse aos cientistas escolher para onde ir com alguma confiança, abandonando as bifurcações que parecem não levar a lugar nenhum.

– Que bacana! Quem deu esse nome a esse tipo de experimento foi bem esperto.

Francis Bacon (1561-1626)

Francis Bacon (1561-1626)

– Foi Francis Bacon, um filósofo inglês do século 16 que pensou bastante sobre como o conhecimento é construído.

– Ah, deve ser parente daquele Roger Bacon que você falou outro dia, não?

– Eles têm o mesmo sobrenome engraçado, mas não sei se eram parentes. Continuando: quando Francis Bacon deu esse nome, ele usou a expressão em latim experimentum crucis, que até hoje os cientistas às vezes usam para “experimento crucial”.

– Dito em latim parece ainda mais importante!

– Hahahaha! É uma bobagem, mas você tem razão.

– Puxa vida, quando crescer, acho que quero ser cientista e poder fazer um experimentum crucis, já pensou?

– Quem sabe, filho, quem sabe…

Matéria publicada em 28.06.2016

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Beto Pimentel

O autor da coluna A aventura da física é apaixonado por essa ciência desde garoto. Hoje, curte também dar aulas e fazer atividades criativas em contato com a natureza e com as outras pessoas.

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