Dragões e dragoeiros

Toda pessoa tem nome e sobrenome registrados na certidão de nascimento. Apesar de existirem milhares de nomes diferentes, é comum termos xarás – aquelas pessoas que dividem com a gente o nome e, às vezes, até o apelido! Já pessoas de nome e sobrenome igual podem ser mais difíceis, mas não são impossíveis de encontrar: existem, no Brasil, muitos Josés da Silva e Marias Souza, só para citar dois exemplos.

Mas será que existem xarás também na natureza? Bem, na taxonomia – a ciência que dá nome aos seres vivos e fósseis – funciona da seguinte forma: toda espécie, assim que é descoberta, é descrita em detalhes e recebe um nome científico. As regras para isso variam de acordo com o tipo de grupo estudado. Por exemplo, para dar nome científico a um animal, devemos seguir as normas do Código de Nomenclatura Zoológica. Para as plantas, usamos o Código de Nomenclatura Botânica.

Em qualquer código, uma das regras principais é que duas espécies de animais nunca podem ter o mesmo nome, assim como duas espécies de plantas também não. Porém, não existe regra que diga que uma planta e um animal não podem ter o mesmo nome. E aí começa a confusão!

<i>Dracaena guianensis</i> é uma espécie de lagartos da Amazônia. Sem contar a cauda, eles atingem até 45 centímetros de comprimento. Vivem próximo à água e passam bastante tempo descansando em árvores baixas. A população amazônica costuma chamá-los de jacuruxi, palavra que, na língua tupi, significa algo como “mãe das cobras”. Talvez esse nome tenha sido escolhido porque muita gente acredita que os jacuruxis são peçonhentos – mas isso não é verdade! (Foto: Kurazo Okada)

Dracaena guianensis é uma espécie de lagartos da Amazônia. Sem contar a cauda, eles atingem até 45 centímetros de comprimento. Vivem próximo à água e passam bastante tempo descansando em árvores baixas. A população amazônica costuma chamá-los de jacuruxi, palavra que, na língua tupi, significa algo como “mãe das cobras”. Talvez esse nome tenha sido escolhido porque muita gente acredita que os jacuruxis são peçonhentos – mas isso não é verdade! (Foto: Kurazo Okada)

Há muito tempo, em 1801, o francês François-Marie Daudin batizou uma espécie de lagarto da América do Sul de Dracaena guianensis. O nome do gênero, Dracaena, é baseado em uma palavra grega que indicava o feminino de dragão. Já o nome específico, guianensis, quer dizer “da Guiana” em latim, pois, naquela época, a espécie só era conhecida da Guiana Francesa. Mais de 100 anos depois, em 1950, outra espécie foi descrita e chamada de Dracaena paraguayensis, em homenagem à região da bacia do rio Paraguai, onde habita.

Foram catalogadas cerca de 40 espécies de dragoeiros, algumas delas usadas como plantas ornamentais. O sangue-de-dragão é extraído de poucas espécies, como a <i>Dracaena draco</i> – o nome específico que dizer “dragão”, em latim. A árvore é nativa de Marrocos, Cabo Verde, Ilha da Madeira e Ilhas Canárias (Foto: Esculapio / Wikimedia Commons / CC BY-NC-ND 3.0)

Foram catalogadas cerca de 40 espécies de dragoeiros, algumas delas usadas como plantas ornamentais. O sangue-de-dragão é extraído de poucas espécies, como a Dracaena draco – o nome específico que dizer “dragão”, em latim. A árvore é nativa de Marrocos, Cabo Verde, Ilha da Madeira e Ilhas Canárias (Foto: Esculapio / Wikimedia Commons / CC BY-NC-ND 3.0)

Segundo as regras, o nome Dracaena nunca poderá ser usado para indicar o gênero de outro de animal além desse tipo de lagarto. Porém, as normas usadas para nomear plantas não valem para animais, e vice-versa. Então, é possível, por exemplo, que um bicho e um vegetal tenham o mesmo nome de gênero, ou até o nome científico igual. Isso é o que os pesquisadores chamam de homonímia.

O gênero de lagartos Dracaena é homônimo de um gênero de plantas, conhecidas popularmente como dragoeiros ou ávores-do-dragão. Esses vegetais receberam este nome porque, de algumas espécies, é possível extrair uma resina avermelhada chamada “sangue-de-dragão”, usada desde a antiguidade como tinta, verniz e até remédio.

Lagartos e árvores com o mesmo nome: por essa você não esperava, não é? E você, tem algum xará?

Matéria publicada em 05.07.2013

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Henrique Caldeira Costa

Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a gente na coluna O nome dos bichos

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