Descoberta por acaso

Lambari, surubim, arraia, tucunaré, pirarucu, traíra, dourado, poraquê… Os rios e lagoas do Brasil abrigam muitos peixes. São mais de três mil espécies registradas pelos cientistas. E esse número aumenta a cada ano com a descoberta de novas espécies. Em agosto de 2017, essa longa lista ganhou mais um representante encontrado bem perto da cidade. Acompanhe…

Com corpo comprido e nadadeiras transparentes, os peixes da nova espécie medem até 15 centímetros de comprimento. Eles se alimentam de pequenos invertebrados, como camarõezinhos de água doce. (foto: de Pinna e colaboradores / Zoological Journal of the Linnean Society, 2017)

Com corpo comprido e nadadeiras transparentes, os peixes da nova espécie medem até 15 centímetros de comprimento. Eles se alimentam de pequenos invertebrados, como camarõezinhos de água doce. (foto: de Pinna e colaboradores / Zoological Journal of the Linnean Society, 2017)

Tudo começou em 1999, quando Ilse Walker, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), procurava pequenos animais, como insetos e camarõezinhos, em um igarapé no rio Tarumã-Mirim, na capital do Amazonas, Manaus. Os igarapés são estreitos canais do rio, geralmente de águas rasas e que percorrem o interior da floresta, sendo bastante comuns na Amazônia.

Durante o trabalho, Ilse acabou capturando um peixinho de corpo comprido, com pouco mais de 2 centímetros. Ela o levou para o Inpa, onde colegas ictiólogos – especialistas em peixes –notaram ser um peixe jovem, mas não conseguiram identificar sua espécie.

A partir daí, os cientistas passaram a procurar nos igarapés amazônicos por mais peixes como aquele. Isso os permitiria preparar uma descrição mais detalhada das suas características, especialmente dos animais adultos. Aos poucos, e graças a muito esforço, novos peixinhos foram sendo encontrados em pequenas poças d’água na mata, enterrados entre amontoados de folhas mortas.

Os peixinhos foram encontrados principalmente em pequenas poças como esta da foto. Durante o período de chuvas, elas se conectam aos cursos d’água, permitindo aos peixes se deslocarem pela floresta. (foto: de Pinna e colaboradores / Zoological Journal of the Linnean Society, 2017)

Os peixinhos foram encontrados principalmente em pequenas poças como esta da foto. Durante o período de chuvas, elas se conectam aos cursos d’água, permitindo aos peixes se deslocarem pela floresta. (foto: de Pinna e colaboradores / Zoological Journal of the Linnean Society, 2017)

Com um número suficiente de peixes em mãos, os ictiólogos puderam examinar com cuidado o corpo deles, inclusive o esqueleto de alguns. Quase 20 anos depois daquela primeira descoberta por acaso, os cientistas divulgaram que esses peixes pertencem não apenas a uma nova espécie, mas também a um novo gênero. E, o que é ainda mais fantástico, a uma nova família!

Só para lembrar, as espécies são agrupadas em gêneros, que são agrupados em famílias de acordo com as características de sua anatomia, ou seja, do seu corpo, e do código genético, indicando o parentesco evolutivo entre elas. Descobrir uma nova família de peixes é como conseguir encaixar peças muito importantes em um grande quebra-cabeças.

Os peixinhos coletados estão preservados na coleção científica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), onde pesquisadores do mundo todo poderão estudar ainda mais detalhes sobre a nova espécie. (foto: de Pinna e colaboradores / Zoological Journal of the Linnean Society, 2017)

Os peixinhos coletados estão preservados na coleção científica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), onde pesquisadores do mundo todo poderão estudar ainda mais detalhes sobre a nova espécie. (foto: de Pinna e colaboradores / Zoological Journal of the Linnean Society, 2017)

A nova espécie ganhou o nome de Tarumania walkerae. O nome do gênero é uma referência ao igarapé Tarumã-mirim, onde a maioria desses peixes foi coletada. O nome específico é uma homenagem à doutora Ilse Walker, por sua descoberta feita por acaso, em 1999. E a família, como se chama? Pelas regras de nomenclatura, o nome da família é sempre baseado no nome de um dos gêneros que a compõem. Neste caso, como o único gênero em questão é Tarumania, a família foi batizada de Tarumanidae.

Se pertinho da cidade existem peixes tão incríveis como a Tarumania, imagine quanta riqueza viva e desconhecida por nós existe nos milhões de quilômetros de rios do Brasil. Cabe a nós conhecê-la, estudá-la e preservá-la.

Matéria publicada em 29.08.2017

COMENTÁRIOS

  • henry

    que coisa estranha isso ai

    Publicado em 15 de julho de 2020 Responder

Envie um comentário

Henrique Caldeira Costa

Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a gente na coluna O nome dos bichos

CONTEÚDO RELACIONADO

Parque Nacional de Itatiaia

A primeira área de preservação ambiental do Brasil

Pequenos notáveis

Conheça os peixes criptobênticos!