Carona de cometa

Hector Servadac é uma das histórias mais extraordinárias de Júlio Verne e foi escrita em 1877. Ela começa com um cometa que passa pela Terra de raspão, levando consigo um pedaço da costa da Argélia, no norte da África, e um grupo de pessoas de diferentes nacionalidades que se encontravam na região. Já pensou presenciar um evento assim e, em seguida, dar-se conta de que você não está mais na Terra, e sim viajando pelo espaço a bordo de um cometa?

Capa do livro <i>Hector Servadac</i>, publicado por Júlio Verne em 1877 (Imagem: Wikimedia Commons)

Capa do livro Hector Servadac, publicado por Júlio Verne em 1877 (Imagem: Wikimedia Commons)

Pois foi isso que aconteceu com o capitão francês Hector Servadac e seu ordenança Ben-Zouf. Desconfiados após o evento incomum e impressionante, eles partem em exploração para tentar entender o fenômeno. Durante o passeio, acabam encontrando outros personagens. Um deles é o astrônomo francês Palmyrin Rosette, professor de física do Ensino Médio. Ele explica aos companheiros que estão em um cometa, que batizou de Gallia.

Ao longo de sua viagem pelo céu, o cometa se aproxima do Sol, o que obriga o grupo de viajantes a lidar com as altas temperaturas dessa região do Sistema Solar. Depois, quando o cometa continua sua órbita alongada até próximo de Júpiter, mergulha em um frio tão terrível que seus habitantes buscam refúgio em um pequeno vulcão.

Mesmo com essas dificuldades, o grupo consegue a duras penas sobreviver pelos dois anos que duram o período da órbita do cometa, até que – como previsto pelo professor – o astro retorna às proximidades da Terra e perpassa sua atmosfera. Isso permite que o grupo escape do cometa e retorne à Terra a bordo de um balão.

Você deve saber que o cometa da história é, a bem da verdade, improvável de existir. Ele tem cerca de 740 quilômetros de diâmetro, o que o colocaria como um grande asteroide, enquanto núcleos de cometas têm dimensões de no máximo alguns quilômetros.

Além disso, Gallia não possui gelo em sua crosta, e hoje sabemos que os cometas de verdade apresentam gelo e poeira em sua superfície. Quando eles se aproximam do Sol, o gelo vaporizado e a poeira solta formam uma espécie de halo em torno do núcleo do cometa, que os astrônomos chamam de “coma”. As partículas subatômicas emitidas pelo Sol arrastam as partículas da coma, formando a cauda tão característica dos cometas – por isso, a cauda sempre aponta na direção oposta à do Sol.

Existem muitas especulações sobre os cometas e sua relação com a evolução da Terra e da Lua. Alguns pesquisadores defendem que boa parte da água dos oceanos, e mesmo o pouco gelo que ainda existe na Lua, pode ter sido trazida por cometas que colidiram com a Terra e com a Lua no início da formação do Sistema Solar. Como recentemente também foi detectado que nos cometas há algumas moléculas orgânicas, há quem sugira que eles possam ter sido importantes para a evolução da vida na Terra (Imagem: Wikimedia Commons)

Existem muitas especulações sobre os cometas e sua relação com a evolução da Terra e da Lua. Alguns pesquisadores defendem que boa parte da água dos oceanos, e mesmo o pouco gelo que ainda existe na Lua, pode ter sido trazida por cometas que colidiram com a Terra e com a Lua no início da formação do Sistema Solar. Como recentemente também foi detectado que nos cometas há algumas moléculas orgânicas, há quem sugira que eles possam ter sido importantes para a evolução da vida na Terra (Imagem: Wikimedia Commons)

Colisões com cometas não são muito comuns. Asteroides caem com muito mais frequência na Terra e nos outros corpos da parte central do Sistema Solar. É possível que uma dessas colisões tenha sido responsável pela extinção em massa de dinossauros e outros animais e plantas, no final do período Cretáceo.

Hoje, há programas para monitorar os maiores asteroides e investigar se eles têm algum risco de colidir com a Terra. Até agora, parece que estamos seguros. Mesmo assim, centenas de pequeninas pedras se aproximam de nós o tempo todo. Felizmente, a imensa maioria nem chega à superfície da Terra, queimando na atmosfera e produzindo o adorável show das estrelas cadentes.

Matéria publicada em 19.07.2013

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Beto Pimentel

O autor da coluna A aventura da física é apaixonado por essa ciência desde garoto. Hoje, curte também dar aulas e fazer atividades criativas em contato com a natureza e com as outras pessoas.

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