Além da ciência

Um físico que criava abelhas e produzia mel. Parece esquisito? Pois este era o passatempo favorito de um dos meus professores na faculdade, Carlos Alberto Fânzeres. Lembrar dele me fez pensar… Será que, assim como Carlos, físicos famosos também tinham atividades extracientíficas, por assim dizer? Isaac Newton? Albert Einstein? Benjamin Franklin?

No imaginário popular, Isaac Newton é um cientista solitário e introvertido. Pouca gente sabe que ele foi responsável por diversas modificações na maneira de cunhar as moedas britânicas para tentar diminuir os crimes de falsificação de dinheiro no país. Parece que ele foi tão zeloso nesse cargo que chegava a ir junto com os policiais acompanhar as prisões dos falsários! (Pintura de Godfrey Kneller / Domínio Público)

No imaginário popular, Isaac Newton é um cientista solitário e introvertido. Pouca gente sabe que ele foi responsável por diversas modificações na maneira de cunhar as moedas britânicas para tentar diminuir os crimes de falsificação de dinheiro no país. Parece que ele foi tão zeloso nesse cargo que chegava a ir junto com os policiais acompanhar as prisões dos falsários! (Pintura de Godfrey Kneller / Domínio Público)

Sempre que nos lembramos de um físico famoso, temos em mente aquela imagem do cientista pensando em suas teorias, fazendo experimentos ou resolvendo equações – enfim, fazendo aquelas coisas que os físicos devem fazer. Mas físicos também têm outros interesses, ora! Até em coisas que não têm nada a ver diretamente com a física ou com a ciência.

Por exemplo, Isaac Newton é sempre lembrado por conquistas importantíssimas: suas três leis do movimento, a teoria da gravitação, a descrição dos movimentos dos corpos celestes. O que pouca gente sabe é que, quando Newton já estava mais velho, foi eleito membro do parlamento inglês, e posteriormente foi diretor da Casa da Moeda britânica.

A lista de médicos que contribuíram para a história da física é bastante longa, mas certamente o nome do inglês Thomas Young deve aparecer bem no topo. Young deve ter curado diversas pessoas doentes, mas será lembrado também por muitas outras coisas.

Ele identificou como o olho faz para colocar em foco coisas próximas e coisas distantes, descobriu o princípio da interferência da luz, contribuiu para a compreensão da luz como uma onda e cunhou o termo “energia”. Também quase decifrou sozinho os hieróglifos egípcios, estudando a Pedra de Roseta.

Albert Einstein (à esquerda) talvez não tivesse pensado em sua famosa teoria da relatividade se não tivesse passado alguns anos trabalhando como examinador de patentes em um escritório na cidade suíça de Berna. Já James Prescott Joule (à direita), um dos cientistas que mais contribuiu para o desenvolvimento do princípio da conservação da energia no século 19, durante muito tempo fez suas pesquisas quase como um passatempo. Seu trabalho mesmo era como gerente da cervejaria da família (Imagens: Domínio Público)

Albert Einstein (à esquerda) talvez não tivesse pensado em sua famosa teoria da relatividade se não tivesse passado alguns anos trabalhando como examinador de patentes em um escritório na cidade suíça de Berna. Já James Prescott Joule (à direita), um dos cientistas que mais contribuiu para o desenvolvimento do princípio da conservação da energia no século 19, durante muito tempo fez suas pesquisas quase como um passatempo. Seu trabalho mesmo era como gerente da cervejaria da família (Imagens: Domínio Público)

Robert Boyle, que estudou os gases no século 17, antes escrevia e filosofava sobre a natureza da moral e da religião. René Descartes foi soldado e filósofo, embora seja lembrado na física por suas contribuições para a óptica e para a mecânica. François Arago, físico e astrônomo francês, chegou a ocupar provisoriamente o cargo de primeiro-ministro francês em 1848, durante um período conturbado da história da França. Galileu descobriu os satélites de Júpiter e muitas outras coisas importantes em mecânica, mas durante um bom tempo dava aulas particulares para poder sustentar a casa.

Durante a revolução que levou à independência dos Estados Unidos, Benjamin Thompson espionou para os ingleses e mais tarde retornou como soldado. Mudou-se em definitivo para a Europa, tornou-se conselheiro militar na Bavária (sul da Alemanha). Ele também se preocupou com a pobreza, e estabeleceu um sistema de assistência social avançado para ajudar as pessoas mais pobres. Em Londres, ajudou a fundar a Royal Institution, uma instituição imaginada para divulgar a ciência para toda a população (Pintura de Thomas Gainsborough / Domínio Público)

Durante a revolução que levou à independência dos Estados Unidos, Benjamin Thompson espionou para os ingleses e mais tarde retornou como soldado. Mudou-se em definitivo para a Europa, tornou-se conselheiro militar na Bavária (sul da Alemanha). Ele também se preocupou com a pobreza, e estabeleceu um sistema de assistência social avançado para ajudar as pessoas mais pobres. Em Londres, ajudou a fundar a Royal Institution, uma instituição imaginada para divulgar a ciência para toda a população (Pintura de Thomas Gainsborough / Domínio Público)

Benjamin Franklin, que chamou a eletricidade de “positiva” e “negativa” de acordo com seu comportamento, era um político atuante e foi um dos fundadores dos Estados Unidos, no final do século 18. Ele foi também o primeiro embaixador de seu país na França. Seu xará Benjamin Thompson teve uma vida ainda mais cheia de atividades: quando jovem, foi aprendiz em uma loja, professor em tempo parcial, ginasta e estudante de medicina, antes de estudar a física do calor e defender que o calor é uma forma de movimento molecular, e não uma substância que passa de um corpo para outro.

No final das contas, é importante lembrar que os cientistas, em geral, não são pessoas que só fazem ciência. Da mesma forma que podemos encontrar um médico que é também jogador de futebol (Sócrates, da seleção brasileira de 1986, por exemplo!), também podemos encontrar um matemático que já foi trapezista de circo e sargento do exército. Por que não?

Matéria publicada em 22.11.2013

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Beto Pimentel

O autor da coluna A aventura da física é apaixonado por essa ciência desde garoto. Hoje, curte também dar aulas e fazer atividades criativas em contato com a natureza e com as outras pessoas.

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