A triste história das touradas

Se você vivesse no Brasil na virada do século 19 para o 20, nem precisaria viajar até Madri, na Espanha, para ver as touradas: elas aconteciam aqui mesmo, por toda parte. Bastava ter uma festa – às vezes, nem isso era preciso. Existiam praças de touros em várias cidades, mas era no Rio de Janeiro que elas eram mais animadas, graças à presença de toureiros portugueses.

Toureiro e touro

Você sabia que as touradas, famosas na Espanha, já aconteceram no Brasil? Em nosso país, foram proibidas em 1934 (Foto: Wikimedia Commons)

Quando a tourada prometia, virava até notícia em jornal. Isso sempre acontecia quando, em vez de toureiro, entrava na arena a senhorita Josefa Mola, conhecida em toda a América Latina como La Pepita e descrita pelos jornais da época como uma “intrépida e simpática toureira”.

Talvez por ser a única mulher a enfrentar os touros por estas paragens, Josefa Mola atraía multidões às praças. Mesmo quando ela se machucava – como ocorreu certa vez, em que ela foi jogada por terra e pisada – voltava à arena para acabar de cravar ferros no animal e participar da morte simulada do touro.

Ei, morte simulada? É isso mesmo que você leu: nas touradas portuguesas, o touro fingia que morria – já na Espanha, a tourada só acabava quando jorrava o sangue e o touro caía, sem vida.

Touro atingido em tourada

Os portugueses se vangloriam de as suas touradas serem menos cruéis do que as dos espanhóis, já que os touros não morriam; estes, por sua vez, acham que é melhor o touro morrer do que sofrer (Foto: Wikimedia Commons)

Aqui no Brasil, como em todo o mundo colonizado pelos portugueses, o touro não morria, mas era pego à unha. A tourada começava com o toureiro a cavalo enfrentando o animal e terminava com o chamado “pega”, quando vários homens (o número variava de acordo com a região) enfrentavam o touro sem nenhuma arma, tentando imobilizá-lo com as mãos.

Apesar de não terminarem com a morte do touro, as touradas realizadas no Brasil também tinham uma boa dose de crueldade. Cravar ferros num animal era considerado diversão – nem me passa pela cabeça que você ache a tourada uma diversão; mas, naquela época, era isso o que as pessoas pensavam! Acredite se quiser.

Eu, que nesta história toda sempre me identifiquei com os touros, fiquei feliz ao saber que finalmente as touradas foram proibidas na Catalunha, na Espanha, como já acontecia no Brasil desde 1934. Havia mais de 600 anos que touros eram mortos nas praças de Barcelona, sua cidade mais conhecida. Agora, brasileiro nenhum vai às touradas em Madri, e muito menos pega touro à unha!

Direto da Máquina do Tempo: nesta coluna, fiz várias referências a uma marchinha de carnaval famosa nos anos 1950, que versa sobre as touradas de Madri. Você sabe qual é? Que tal conversar com seus avós para tentar descobrir? Coloque sua resposta nos comentários!

Matéria publicada em 31.08.2012

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Keila Grinberg

Quando criança, gostava de visitar a Biblioteca Nacional, colecionar jornais antigos e ouvir histórias da época de seus avós. Não deu outra: hoje é historiadora e escreve para a coluna Máquina do tempo.

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