A química do bronzeamento e o pãozinho francês

O verão está aí. Desde 21 de dezembro – e até 20 de março –, é tempo de aproveitar os dias ensolarados, mais longos e quentes da estação. Ainda mais porque é época de férias. E nada melhor do que se divertir na praia, na piscina, em rios ou lagoas!

Só é preciso tomar cuidado com o Sol. Isso porque ele emite uma radiação chamada ultravioleta, que pode causar danos à nossa pele. Por isso, o ideal é que você use protetor solar e só se exponha ao Sol antes das dez horas da manhã ou após as quatro horas da tarde, quando a radiação ultravioleta que chega à Terra é mínima.

Aliás, se você perceber que a sua pele está ficando mais escura depois de alguns dias de exposição ao sol, saiba que é desse jeito que ela se protege da radiação ultravioleta vinda desse astro. Esse escurecimento acontece por causa da melanina: um pigmento produzido por dois tipos de células da camada mais externa da nossa pele. Essas células armazenam a melanina em forma de grãos, que absorvem o excesso de radiação ultravioleta do Sol, impedindo que ela provoque danos à pele.

Vilã que tem seu lado de mocinha

Mas… Se a melanina ajuda a proteger a pele, por que não somos naturalmente “queimadinhos”?

Essa questão intrigou os cientistas por muito tempo. Hoje, porém, se sabe que a radiação ultravioleta não é totalmente ruim. Apesar de poder causar danos à pele, ela também é responsável pelo início da produção da vitamina D, que ajuda na formação de ossos fortes, protege o coração e ajuda a combater certos organismos que provocam doenças, como a bactéria que causa a tuberculose. Assim, a quantidade de melanina na pele deve ser suficiente para protegê-la do excesso de radiação ultravioleta, mas não tão grande a ponto de impedir a formação de vitamina D.

 Por que existem cores diferentes de pele?
Essa é outra pergunta que deixou os cientistas em dúvida por muitos anos. Mas a resposta veio quando se concluiu que a quantidade de melanina na pele deve ser suficiente para protegê-la do excesso de radiação ultravioleta, mas não tão grande a ponto de impedir a formação de vitamina D.
Assim sendo, as populações que se desenvolveram, por milhares de anos, em climas temperados ou frios, onde a incidência de luz solar é pequena, possuem peles de tonalidade mais clara, pois não têm necessidade de tanta melanina para se proteger da radiação ultravioleta. Além disso, em excesso, a melanina poderia até impedir a formação de vitamina D. Já as populações de regiões tropicais e equatoriais, onde é grande a incidência de luz solar, têm a pele mais escura, com mais melanina, como forma de proteção contra a radiação ultravioleta. Mas, como a incidência de luz é muito grande, ainda sobra suficiente radiação ultravioleta para a produção de vitamina D.

Bronzeado que dura o ano todo

Eis aí a razão por que já não nascemos bronzeados. Mas bem que há pessoas que gostariam de ficar assim o ano todo, mesmo no inverno, quando há menos dias ensolarados e as temperaturas baixas desanimam até os mais atrevidos a ficarem de maiô ou sunga para pegar sol. A solução, nesse caso, é dada pela química: o autobronzeador.

Inventado em 1960, vendido sob a forma de creme, spray, loção ou gel, esse produto pode começar a dar resultado uma hora após ser aplicado. O escurecimento continua por até 72 horas, não some com o banho ou com a transpiração e dura de cinco a sete dias. Seu segredo está em um composto químico de nome complicado, mas ação interessante: a dihidroxiacetona (DHA).

Esse açúcar incolor reage nas células da superfície da pele. Mais precisamente, com os pequenos elementos (aminoácidos) que formam as proteínas presentes ali. E, como resultado, vai produzir uma coloração marrom.

Mas o mais curioso, você ainda não sabe: esse tipo de reação entre açúcares e aminoácidos que dá origem a compostos de coloração marrom não está apenas por trás da ação dos autobronzeadores. É também o segredo para a formação da cor dourada em alimentos assados, como o pãozinho francês! É, quem poderia imaginar?

Joab Trajano Silva
Instituto de Química
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Matéria publicada em 19.01.2011

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Henrique Caldeira Costa

Curioso desde criança, Henrique tem um interesse especial em pesquisar a história por trás dos nomes científicos dos animais, que partilha com a gente na coluna O nome dos bichos

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