A floresta com data de nascimento

Estamos encerrando 2011, o Ano Internacional das Florestas e também o ano em que comemoramos os 150 anos da criação oficial da Floresta da Tijuca. Ops! Desde quando floresta faz aniversário?

Pico da Tijuca, no Rio de Janeiro

150 anos depois de sua criação oficial, a Floresta da Tijuca é uma imensa área verde no meio da cidade do Rio de Janeiro (Foto: Marco Terranova / Arquivo Parque Nacional da Tijuca)

Geralmente, floresta só tem data de óbito – foi assim com as florestas europeias há mais de mil anos, destruídas para dar lugar ao desenvolvimento das cidades. O mesmo se passou com as florestas norte-americanas, devastadas com o crescimento das indústrias, no século 19.

A Floresta da Tijuca teria ido pelo mesmo caminho, se ninguém tivesse feito nada para conter a expansão das plantações de café. Afinal, desde a década de 1820, o plantio do café não parava de crescer no entorno da cidade do Rio de Janeiro.

Naquela época, cada vez mais pessoas no mundo tomavam café. Como se bebia muito café, muita gente queria vender o produto e muita gente queria plantá-lo. E as serras do Rio de Janeiro eram um dos melhores lugares do mundo para o plantio…

Só que, para plantar café, era preciso primeiro destruir as florestas que ocupavam a região. Enquanto as árvores eram transformadas em lenha e material de construção, as clareiras abertas eram ocupadas com as novas plantações. Algumas fazendas no Rio chegaram a ter 100 mil pés de café!

A questão é que, justamente nas serras do Rio de Janeiro ocupadas pelas plantações de café, ficavam os principais mananciais de água que abasteciam a cidade. Acabar com as matas era também ameaçar o abastecimento da água na então capital do Brasil.

Cachoeira na Floresta da Tijuca

A água é um dos bens mais preciosos da Floresta da Tijuca. Foi por causa dela que se começou o reflorestamento de regiões do Rio de Janeiro no século 19 (Foto: Marco Terranova / Arquivo Parque Nacional da Tijuca)

Desde o século 18, a água era pouca para todos os habitantes da cidade, e, depois da vinda da corte portuguesa em 1808, com tanta gente que eles trouxeram, o problema só piorou. Não havia água para todos e, nos meses de seca, a situação era terrível. Tanto que, poucos anos depois, D. João VI decretou a proteção da bacia do rio Carioca, proibindo o corte de árvores perto dos mananciais e das margens de riachos próximos da cidade.

Mas fortes secas continuavam atingindo o Rio de Janeiro, e a situação continuou piorando. Em 1844, a calamidade foi tão grande que o governo começou um programa emergencial de replantio de árvores em terras particulares, na Tijuca. Em 1860, todas as nascentes de água localizadas em propriedades particulares foram desapropriadas para serem protegidas.

No ano seguinte, foi criada oficialmente a Floresta da Tijuca (e também a das Paineiras). Estabeleceu-se que novas árvores, todas espécies nativas, deviam ser plantadas regularmente, e o desmatamento foi definitivamente proibido.

Assim foi criada a floresta com data de nascimento. Que ela tenha – com a nossa colaboração – muitos e muitos anos de vida!

Matéria publicada em 30.12.2011

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Keila Grinberg

Quando criança, gostava de visitar a Biblioteca Nacional, colecionar jornais antigos e ouvir histórias da época de seus avós. Não deu outra: hoje é historiadora e escreve para a coluna Máquina do tempo.

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