Borboletas na barriga

Dia de ir ao parque de diversões? Oba! Um dos meus brinquedos favoritos é a montanha-russa. Já foi? A gente fica na maior expectativa quando o carrinho está subindo e, quando chega lá no alto e começa a descer… Vem aquele friozinho na barriga! A mesma coisa pode aparecer em outras situações – por exemplo, no elevador. Em inglês, essa sensação estranha é chamada de “borboletas na barriga”, o que eu acho uma imagem bem legal. Mas de onde será que ela vem?

Aquele friozinho que a gente sente na barriga na hora de descer a montanha russa – ou mesmo um escorrega é chamado pelos norte-americanos de “borboletas no estômago”. (foto: Tetsumo / Flickr / CC BY 2.0)

Aquele friozinho que a gente sente na barriga na hora de descer a montanha russa – ou mesmo um escorrega é chamado pelos norte-americanos de “borboletas no estômago”. (foto: Tetsumo / Flickr / CC BY 2.0)

No interior do nosso corpo tem um monte de líquidos. O sangue, que é bombeado pelo coração e que flui em velocidade o tempo todo pelo corpo, é um deles. Mas há também líquidos que ficam a maior parte do tempo “parados”: o suco gástrico que ajuda a fazer a digestão no interior do estômago; o líquido no labirinto do ouvido que nos dá a sensação de equilíbrio; a bile na vesícula; a urina na bexiga etc.

Quando estamos parados – ou mesmo nos movendo com uma velocidade mais ou menos constante, como quando caminhamos – esses líquidos se depositam e fazem pressão sobre a parte de baixo dos órgãos que os contêm. Isso acontece por causa da gravidade, que puxa tudo sempre para baixo. A sensação normal que temos, por exemplo, do suco gástrico dentro do estômago, é a do líquido exercendo uma força igual ao seu peso sobre a parede interna da parte de baixo do estômago.

Quando começamos a cair junto com o carrinho da montanha-russa, no entanto, o suco gástrico não exerce mais a mesma força sobre a parte de baixo do estômago, porque todo o nosso corpo (e não só o estômago!) também está caindo junto com o líquido. Então, a força sobre a parede interna do estômago fica muito menor. É quase como se o suco gástrico flutuasse dentro dele, como um astronauta dentro de uma estação espacial. Essa diminuição da pressão que o líquido faz na parede desse órgão é interpretada pelo nosso cérebro como o famoso “friozinho” (ou “borboletas”) na barriga.

A sensação de frio na barriga está relacionada ao movimento dos líquidos dentro do nosso estômago. (foto: amaianos / Flickr / CC BY 2.0)

A sensação de frio na barriga está relacionada ao movimento dos líquidos dentro do nosso estômago. (foto: amaianos / Flickr / CC BY 2.0)

Coisas semelhantes acontecem em situações mais corriqueiras. Um exemplo: quando descemos no elevador e nos sentimos um pouco mais leves, como se nossos pés não estivessem fazendo mais tanta força sobre o chão. É isso mesmo o que acontece, porque estamos, de fato, descendo. Alguns elevadores, normalmente em prédios muito altos, têm que descer com mais rapidez. Para isso, começam a descida em movimento rápido de queda por alguns décimos de segundo, dando uma sensação parecida com a da montanha-russa, só que por um tempo bem mais curto.

Outras situações podem não ser tão divertidas. Quando somos acelerados para um lado, em vez de para baixo, por exemplo, a sensação é mais enjoada. É o que acontece quando sacolejamos no carro ou no ônibus que faz muitas curvas seguidas. Nesse caso, o líquido no interior do nosso estômago é jogado para as paredes laterais do estômago. Isso é mais ou menos o que aconteceria com a água dentro de um balde que esteja no seu colo no interior do carro: ela também “subiria” a parede lateral do balde oposta à direção para onde o carro está virando. Muita gente também enjoa ao andar de barco, porque, no barco, somos jogados para lá e para cá o tempo todo.

Não há muito o que se possa fazer para evitar essas sensações, do ponto de vista da física. O jeito é pedir para o cérebro tolerar os enjoos e aproveitar os friozinhos na barriga. Mas, se lhe serve de consolo, isso funciona como uma espécie de “sexto sentido”: podemos saber, automaticamente, que estamos caindo, ou virando para o lado, ou sendo pendurados de cabeça para baixo, apenas sentindo para onde estão indo os líquidos no interior do nosso corpo, sem usar nenhum dos cinco sentidos tradicionais.

Matéria publicada em 14.10.2016

COMENTÁRIOS

  • BARBARA

    MUITO LEGAL TENHO 9 ANOS E MINHA PROF MIM IDICOU ISSO ESTOU AMANDO

    Publicado em 16 de novembro de 2020 Responder

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Beto Pimentel

O autor da coluna A aventura da física é apaixonado por essa ciência desde garoto. Hoje, curte também dar aulas e fazer atividades criativas em contato com a natureza e com as outras pessoas.

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