Artistas das cavernas

Eles viveram no Oriente Médio, na Ásia e na Europa até cerca de 35 mil anos atrás. Quase sempre habitavam cavernas e eram baixinhos, robustos e cabeludos. Além disso, sobreviveram a temperaturas que chegavam a 20 graus Celsius abaixo de zero! Sabe quem eram eles? Os homens de neandertal, outra espécie de humanos que conviveu com a nossa por milhares de anos.

Os neandertais conviveram com os humanos e até pouco tempo não se pensava que eles também tinham dons artísticos. (foto: Matt Celeskey / Flickr / <a href= http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/br/>CC BY-SA 2.0</a>)

Os neandertais conviveram com os humanos e até pouco tempo não se pensava que eles também tinham dons artísticos. (foto: Matt Celeskey / Flickr / CC BY-SA 2.0)

Esse hominídeo é chamado pelos cientistas de Homo neanderthalensis e, até pouco tempo, acreditava-se que eles eram bem mais primitivos do que nós, os Homo sapiens, e que não tinham capacidade de se expressar artisticamente. Mas uma descoberta recente ajuda a desfazer essa ideia: arqueólogos do Museu de Gibraltar, no Reino Unido, encontraram uma gravura rupestre produzida pelos neandertais.

O achado foi feito na gruta de Gorham, no sul da Península Ibérica. Abstrata, a gravura mostra apenas algumas linhas cruzadas – bem diferente dos bisões e outros animais que os Homo sapiens que viveram na mesma época também deixaram para trás. Após uma série de estudos geoquímicos dos sedimentos minerais que se encontravam sobre o  achado, os cientistas concluíram que a arte  tinha sido feita por homens de neandertal que ali viveram há alguns milhares de anos.

Essas marcas, segundo os arqueólogos de Gibraltar, não foram produzidas acidentalmente durante atividades cotidianas dos neandertais, mas foram feitas de forma direcionada e repetida. Isso parece confirmar a hipótese de que os homens de neandertal eram capazes de raciocinar e se expressar de forma abstrata.

Pesquisadores encontram o primeiro registro de uma arte neandertal. (foto: cortesia de Stewart Finlayson)

Pesquisadores encontram o primeiro registro de uma arte neandertal. (foto: cortesia de Stewart Finlayson)

A arqueóloga Jandira Neto, do Instituto de Arqueologia Brasileira, conta que os neandertais só foram capazes de sobreviver à dura vida da Era do gelo por milhares de anos graças ao uso do raciocínio lógico e à sua capacidade de se expressar de forma criativa.

“Eles produziam ferramentas para caçar e faziam roupas e acessórios a partir de peles, chifres e dentes de animais”, explica a arqueóloga. “Certamente eram pessoas sensíveis, já que foram os primeiros a enterrar ritualmente seus mortos em covas enfeitadas com flores, o que nos parece também uma expressão abstrata de seus sentimentos”.

Os neandertais e o homem moderno

Segundo a pesquisadora, a principal diferença entre os neandertais e nós é que desenvolvemos novas maneiras de pensar e de nos organizar em grupo para sobrevivermos. “Por alguma razão, passamos a ser culturalmente mais criativos do que os neandertais e a expressar nossas percepções do mundo um pouco melhor, por meio da arte e de novos hábitos”, afirma Jandira.

Há diversas teorias para entender a finalidade das gravuras e pinturas deixadas pelo Homo Sapiens  e pelos neandertais e estas podem lembrar símbolos religiosos ou relacionados a mitos de origem. De qualquer forma, registros como o que foi encontrado pelos pesquisadores do Museu de Gibraltar indicam que, tanto quanto nós, os neandertais podem ter sido verdadeiros artistas das cavernas, expressando sua arte nas paredes de pedra.

Matéria publicada em 05.11.2014

COMENTÁRIOS

  • Anna Elise

    Nossa que descoberta incrível!

    Publicado em 18 de maio de 2019 Responder

  • Isabella Curto Ruiz da Silva

    Como eles conseguiram fazer uma estrutura de um homem sendo que só tinha ossos restantes?

    Publicado em 25 de maio de 2020 Responder

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Valentina Leite

Sou apaixonada por cinema, sushi e praia. Adoro escrever, andar de bicicleta, cantar (no chuveiro) e conhecer pessoas novas! Quando pequena queria ser cientista, mas acabei escolhendo ser jornalista e agora escrevo sobre ciência.

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