Por que quando duas pessoas combinam dizemos que elas têm química? E o que quer dizer quando alguém reclama que um produto ou alimento têm química? Essas e outras perguntas só podem ser bem respondidas… por um químico – ou por uma química, é claro!

Claudia Rezende, professora de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) explica que, na verdade, tudo que vemos ao nosso redor tem química. Isso porque a química estuda o que está escondido nos seres vivos, nas plantas, nos microrganismos… e tenta entender do que elas são compostas e como funcionam.

Nessa entrevista, você vai descobrir que as possibilidades profissionais para quem se forma em Química são bem variadas – podem até trabalhar para resolver crimes!

Ilustração Cruz

 

Ciência Hoje das Crianças: Todo químico (ou química) já teve um laboratório cheio de tubos de ensaio para fazer experimentos, como mostram nos desenhos? O que é a química, afinal?

Claudia Rezende: Durante muito tempo existiram brinquedos que vinham com esses tubos de ensaio. Os desenhos animados mostravam assim também. Mas depois esses brinquedos foram proibidos por causa do manuseio de algumas substâncias, que podiam ser perigosas. Hoje alguns brinquedos voltaram, mas com restrições. Fazer experimentos é superimportante para quem gosta de química. É a base dessa ciência. A química é uma ciência que observa o que acontece na natureza e no dia a dia das pessoas, o que está escondido nas coisas, e tenta entender como elas funcionam. Também estuda como as coisas são compostas. Por que a pedra é uma pedra? O que tem dentro de uma planta? Por que a folha tem aquela estrutura? Tudo que está ao nosso redor é feito de moléculas, que por sua vez se estruturam em partículas muito pequenas, chamadas átomos. A química estuda como essas moléculas interagem e se unem para formar o que enxergamos. É um bocado de coisa! A Química é muito legal.

 

CHC: Como é a rotina de um(a) químico(a)?

Claudia: Um químico pode trabalhar em várias áreas. Pode estudar desde a estrutura pequenininha dos átomos, fazer um remédio ou até produzir nanotubo de carbono, um material que torna os materiais esportivos mais resistentes e frescos. O químico pode ficar o dia inteiro no laboratório, fazendo experimentos, ou trabalhar na linha de produção da indústria, acompanhando a obtenção de um medicamento, por exemplo. Tem químico que estuda a qualidade da água, outro faz projetos para desenvolver alguma coisa… Tem também químico que estuda a parte teórica, desde as partículas menores da molécula, ou faz controle de qualidade de algum produto… e tem os engenheiros químicos, que fazem projetos dentro das fábricas, por exemplo. São muitas as rotinas possíveis de um químico!

 

CHC: O melhor amigo no dia a dia de um(a) químico(a) é a tabela periódica?

Claudia: É sim! A tabela periódica é a maior reunião de dados na ciência dos últimos dois séculos. O químico usa muito a tabela periódica para entender os elementos químicos e buscar dados sobre eles. Além da tabela periódica, o químico também precisa da ajuda de outros materiais que possa dar informações sobre ponto de ebulição, fusão, solubilidade (como se dissolvem), dessas substâncias… Há muitos amigos no nosso dia a dia.

 

CHC: É verdade que existem químicos até ajudando a resolver crimes?

Claudia: Sim! Alguns trabalham com a polícia criminal. Tenho um amigo que sintetiza luminol no trabalho dele. É uma substância que ajuda a polícia a descobrir onde há restos de sangue, por exemplo. Quando se fala em solução de crimes, buscam-se provas que muitas vezes estão em componentes químicos, alguns de origem biológica, como sangue ou cabelo. A análise química deles pode levar a descobrir, por exemplo, de quem é o sangue, ou se há vestígios de alguma substância no cabelo. A análise química pode ajudar até a descobrir se uma obra de arte foi falsificada, com que tipo de material etc. A química tem tudo a ver com solução de crimes, e o que aparecem em filmes não é exagero no que diz respeito à análise química nessa área.

 

CHC: Por que quando duas pessoas combinam dizemos que elas “têm química”?

Claudia: Todas as nossas sensações e respostas biológicas têm a ver com a química. Temos vários neurotransmissores (células que levam mensagens) em nosso cérebro e vários mecanismos de relação que disparam respostas químicas. Essas respostas produzem substâncias ou sinais elétricos provocados pela interação de moléculas, o que se reflete em diversas partes do nosso corpo. A atração por outra pessoa tem a ver com respostas químicas provocadas por essas moléculas que disparam quando existem essas interações.

 

CHC: E quando alguém recomenda não comprar algum produto ou alimento porque ele tem química? O que quer dizer?

Claudia: Tudo tem química. Isso porque todo produto que existe tem moléculas. Menos o vácuo absoluto, que não tem nem ar. Fora isso, tudo tem química. De um xampu a batatas! Mas muita gente associa de maneira errada a química a uma coisa processada. Muitas vezes as pessoas tendem a dizer que uma coisa processada, diferente da natural, é pior. Isso não é verdade. Se você comprar algo natural e não limpar direito com água, ou não lavar as verduras, por exemplo, com vinagre, não mata os microrganismos que estão ali. A química está em tudo! Inclusive dentro da gente. Se estou aqui falando com vocês, se escrevo algo, ou uso uma tinta de impressora, tudo é produto de processo químico. O que precisamos é controlar nossos processos e evitar que eles sejam poluentes, para que possamos usar a química com tudo de melhor que ela trouxe para o mundo moderno e para a nossa saúde.

 

CHC: Quando e como você decidiu que seria química?

Claudia: Sempre gostei de mexer com as coisas. De fazer misturas na cozinha, de ir pro mato e cheirar as plantas. Trabalho muito com cheiros, desenvolvo aromas no meu laboratório. Estudo muito o café, tentando entender a qualidade do café que o Brasil produz. Nosso país é o maior produtor de grãos de café do mundo! Tento entender também o que está dentro do grão de café. E como podemos aproveitar as substâncias que existem no café para além do cafezinho. A cafeína, por exemplo, está em vários medicamentos que a gente toma. Mas há várias outras substâncias que o grão de café produz, e várias delas podem ser usadas diretamente, ou transformadas pelos químicos para fazer remédios e muitas outras coisas. É uma curiosidade que vem desde pequena. Que outra profissão linda iria escolher que me permitisse entender e compreender o que está por baixo do que enxergamos? Só podia ser química.

 

Elisa Martins,
Jornalista, especial para a CHC.

Matéria publicada em 21.06.2019

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