PLOCT! PLOCT! BLOOM!

Mais um fim de semana se aproximava e Rex, um dos adorados mascotes da CHC, decidiu que iria novamente descansar à beira do lago azul. O lugar era mesmo agradável e a água, de tão limpinha, permitia ver os cardumes de peixes coloridos e as plantas aquáticas. Era bom também olhar as lontras e outros animais da região brincando no lago. Opa! Parece que tem algo errado nessa história… “Era agradável”… “Era bom”… por que não é mais? Porque nessa nova visita do Rex, a água do lago estava com uma cor esquisita e (eca!) um fedor insuportável!

Ilustração Marcelo Pacheco

Rex mal podia acreditar. Seu lago de água cristalina estava verde, os peixinhos coloridos estavam mortos e nenhum outro animal brincava mais por lá. Foi aí que o nosso querido dinossauro teve uma ideia: coletou um pouco da água do lago e correu para mostrar à Diná.

Diná pegou sua mochila de “dinossaura” cientista e tirou um microscópio. Ao observar a água, ela se perguntou:

– O que será que são esses pontinhos?

Rex também quis ver. Em seguida, os dois correram para o computador, procurando algo que fosse responsável pela poluição da água e se parecesse com aquela imagem. Em pouco tempo descobriram as cianobactérias. Sim, a imagem delas na internet era igual à do microscópio. E agora, seriam elas as responsáveis pela triste transformação no lago?

 

Hora de investigar!   

A dupla de dinossauros levou o caso para a escola na segunda-feira e a turma toda se envolveu na investigação sobre as cianobactérias. Descobriram coisas incríveis, como o fato de que esses microrganismos têm características que se aproximam das plantas.

Pois é! Assim como as plantas, as cianobactérias fazem fotossíntese. Ou seja: elas retiram a água do solo e o gás carbônico do ar para, com a ajuda da luz do sol, produzir seu próprio alimento (a glicose). Ao final desse processo, liberam oxigênio no ar. E detalhe: as cianobactérias só conseguem fazer fotossíntese porque, tal como as plantas, elas têm clorofila.

A turma estava encantada com as cianobactérias, que, apesar de serem microscópicas, produzem o próprio alimento e são extremamente importantes para a vida do nosso planeta, porque também produzem oxigênio, gás indispensável à respiração.

– É, mas deve haver outro lado nessa história. Afinal de contas, o lago era transparente antes da invasão das cianobactérias e agora está um horror! – lembrou Rex.

E ele estava certo…

 

Desvendando o mistério

Tudo em excesso pode fazer mal! Com as cianobactérias não é diferente. Dois outros elementos químicos presentes na água servem de alimento para esses microrganismos: o nitrogênio e o fósforo. Se o ambiente está em equilíbrio, fica tudo bem. Mas, quando há poluição, isto é, quando o esgoto das casas e das indústrias vai parar na água ou quando os fertilizantes usados nas plantações também acabam poluindo rios, lagos e lagoas… Aí, muito mais nitrogênio e fósforo é despejado na água.

Como nitrogênio e fósforo é alimento para as cianobactérias, elas se alimentam mais e se reproduzem mais. E, falando em reprodução, Diná descobriu a forma como as cianobactérias se reproduzem, que é muito simples: uma cianobactéria se alimenta, cresce e quando alcança um tamanho muito grande… PLOC!… se divide! Logo, uma mesma cianobactéria se transforma em duas, que vão se dividir e… PLOC! PLOC!… já são quatro! E assim por diante.

Agora, imagine essas cianobactérias se reproduzindo em um curto espaço de tempo! PLOC! PLOC! PLOC! PLOC! PLOC! PLOC! e…. BLOOM! Isso mesmo, uma verdadeira explosão de cianobactérias toma conta do ambiente! Esse crescimento acelerado das cianobactérias é chamado de floração ou bloom de cianobactérias.

 

Tapete verde

O excesso de cianobactérias forma uma camada bem grossa de organismos. É como se as águas transparentes tivessem sido cobertas por um tapete verde e escuro. Esse tapete verde sobre as águas impede que a luz atravesse a água do lago e chegue aos organismos que precisam dela para fazer a fotossíntese e produzir o oxigênio.

Além disso, as cianobactérias também respiram, isto é, também consomem oxigênio. Quando elas são muitas, acabam consumindo muito oxigênio. Sem esse gás indispensável à vida, peixes e outros organismos que vivem no lago acabam morrendo.

Reservatório Funil, na cidade de Resende no Rio de Janeiro, com floração de cianobactérias.
Foto Gabrielle Rabelo Quadra

De inofensivas a venenosas

Nessas florações ou blooms, podem aparecer algumas espécies de cianobactérias que são capazes de produzir substâncias tóxicas, chamadas de cianotoxinas. Essas toxinas podem afetar o sistema nervoso, o fígado e a pele.

Pois é… Rex, Diná e a turma da escola descobriram que as cianobactérias em contato com poluentes podem se multiplicar em excesso e se tornar um veneno para a saúde humana e de outros animais. Mas a culpa é delas? Claro que não!

A grande quantidade de fósforo e nitrogênio que chegou ao lago junto com o esgoto é que gerou esse… PLOCT! PLOCT! BLOOM de cianobactérias. E os culpados pelo esgoto somos nós, humanos. Somos nós que criamos indústrias em excesso e não damos destino adequado aos resíduos elas geram. Somos nós que não damos atenção ao esgoto que sai das nossas casas – lembrando que muita gente mora de maneira tão improvisada que nem esgoto tem. Somos nós que escolhemos usar fertilizantes. Enfim… Somos nós que levamos desequilíbrio ao ambiente natural, mas somos nós também que podemos propor mudanças!

Enquanto você é criança, uma boa forma de colaborar para o equilíbrio ambiental é consumir menos. Isso mesmo! Quanto menos nós compramos, menos as indústrias produzem, e menos poluição é gerada. Mais tarde, quando crescer um pouco, você pode também exigir dos governantes que haja maior cuidado com o meio ambiente e pode seguir fazendo escolhas mais conscientes, o que inclui até mesmo usar adubos naturais em uma horta que queira ter em casa.

Gráfico Marina Vasconcelos

Verde ou azul?

Ciano é um termo que significa azul. Como antigamente esses microrganismos eram considerados verde-azulados, foi dado o nome cianobactérias. No entanto, quando se reproduzem em excesso, a cor que predomina é o verde. Curioso, não?

Rafaela dos Santos Costa
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Helena de Oliveira Souza
Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Gabrielle Rabelo Quadra
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza
Universidade Federal de Juiz de Fora

Viviane Souza do Amaral
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Julio Alejandro Navoni
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Matéria publicada em 02.08.2021

COMENTÁRIOS

  • Miguel Cabral

    Muito interessante.

    Publicado em 3 de setembro de 2021 Responder

  • Shirlei Barros do Canto (PPGMA-UERJ)

    Vocês estão de PARABÉNS pelo didatismo. A linguagem empregada, bem como as ilustrações e a formulação lúdica favoreceram a abordagem de uma temática tão séria!

    Publicado em 3 de setembro de 2021 Responder

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