Epidemiologista!

Ilustração Walter Vasconcelos

Quando uma doença se espalha rapidamente entre as pessoas de uma determinada região e persiste por algum tempo, temos uma epidemia. Quando uma doença se espalha pelo mundo todo e persiste, temos uma epidemia global, ou melhor, uma pandemia. Sim, o novo coronavírus está provocando uma pandemia. Isso assusta! Mas alivia saber que existem especialistas no estudo da saúde (e da doença) das populações. Estamos falando dos epidemiologistas. Para entender melhor o trabalho desses profissionais, a CHC conversou com Francisco Inácio Monteiro Bastos, epidemiologista do Departamento de Informações em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz.

Francisco conta que, para promover a saúde e evitar a proliferação de doenças, a epidemiologia aconselha hábitos saudáveis, como se alimentar bem e praticar exercícios físicos. É também importante que os governantes cuidem para que a população tenha acesso à água potável e com flúor (aquele velho conhecido que protege os nossos dentes das cáries). E é ainda altamente recomendável que todos tomem as vacinas indicadas pelo sistema de saúde. “Proteger as pessoas das doenças não é tarefa fácil. Mesmo com todos os esforços dos epidemiologistas e de outros profissionais da saúde, uma fração de pessoas adoece, e aí a epidemiologia deve contribuir para tentar entender o avanço ou não das doenças”, explica.

 

Desafio: doença nova

Conhecer os sintomas de uma doença que está provocando uma epidemia, as formas de contágio dessa doença e o número de infectados são alguns dos desafios da epidemiologia. Comparar o surto de uma doença com surtos anteriores, buscando semelhanças e diferenças, é outra tarefa dos especialistas na área. Mas o novo coronavírus – identificado inicialmente na China, no final de 2019 – chegou bagunçando tudo, provocando uma doença nova e que, portanto, ninguém conhecia para realizar comparações simples.

“O coronavírus chegou e se espalhou por todo o mundo. Em toda epidemia, é preciso comparar a quantidade de novos casos com os dados que tínhamos até então. Mas, no caso do novo coronavírus, tais dados não existem, ou seja, não existe maneira de comparar, apenas observar que se espalha rápido e que está se mantendo ao longo do tempo”, conta Francisco.

 

E agora?

Bom, diante de uma epidemia desconhecida, os epidemiologistas precisam que os órgãos públicos (como hospitais, prefeituras e governos estaduais) forneçam dados reais da doença, ainda que esses dados sejam extremamente desagradáveis. Em outras palavras, os epidemiologistas precisam saber, por exemplo, do número verdadeiro de pessoas que estão doentes e quantas morreram em consequência da nova doença. É com essas e outras informações que eles podem ajudar na orientação da população sobre como se proteger.

Orientar? É isso que os epidemiologistas fazem? Sim, basicamente, é isso. Os dados que os epidemiologistas recolhem sobre uma epidemia se transformam em informações que eles passam aos profissionais de saúde e aos governantes, que, por sua vez, devem transmitir essas informações às pessoas. “É uma receita fácil de dar e difícil de fazer”, explica Francisco. Ou seja: os epidemiologistas passam as orientações, mas nem sempre elas chegam ou são cumpridas como deveriam pela população.

Para conter a epidemia do novo coronavírus, por exemplo, as pessoas deveriam ficar em casa, sair somente para ir ao mercado ou à farmácia, manter distância de outras pessoas na rua, usar máscaras, não tocar no rosto, lavar bem as mãos… Quantas pessoas conhecemos que não estão fazendo isso? E por que não estão fazendo? É bom pensar, porque, quando não seguimos a receita passada pelos epidemiologistas, fica mais difícil acabar com uma epidemia.

 

Orientações, previsões e surpresas

Será que as orientações passadas pelos epidemiologistas podem mudar? É claro que podem. Afinal de contas, a ciência está sempre evoluindo, fazendo novas descobertas e isso pode resultar em novas orientações. Por exemplo, no começo da epidemia do novo coronavírus, as máscaras não eram recomendadas, mas, ao entender que o vírus pode se espalhar até pelas gotículas de saliva que se soltam no ar quando falamos, usar máscara se tornou uma orientação importante.

Falando em coisas importantes, você sabia que, juntando pistas daqui e dali, os epidemiologistas conseguem até antecipar quais serão as epidemias do futuro? Pois é, parece coisa de detetive. Mas, veja: durante a Segunda Guerra Mundial, quando bombas atômicas foram lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, os epidemiologistas previram que a radiação das bombas poderia resultar em muitos casos de câncer, e, infelizmente, isso aconteceu. Agora, com as mudanças no clima da Terra, eles consideram que pode haver um aumento das doenças transmitidas por mosquitos, por exemplo.

Mas nem tudo segue um roteiro… “Em outros casos, como nos bons livros de mistério e detetives, não somos capazes de fazer previsões corretas e somos surpreendidos. Como mostram as narrativas clássicas de detetives ingleses, nem sempre o culpado é o mordomo. Acredito mesmo que epidemiologistas deveriam ler boas histórias de mistério, como uma das minhas favoritas, que é o ‘Assassinato no Expresso do Oriente’, onde os culpados são todos – o que sempre me faz lembrar a atual crise do coronavírus”, conta Francisco.

Se você se interessou por essa profissão, saiba que você pode fazer qualquer faculdade e depois se especializar em epidemiologia. Então, guarde essa dica!

 

Cathia Abreu,
Instituto Ciência Hoje

Elisa Martins,
Especial para a Ciência Hoje das Crianças

Matéria publicada em 19.05.2020

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