Arte também é ciência

O pintor francês Claude Monet gostava de pintar várias vezes a mesma paisagem, em diferentes horas do dia e diferentes épocas do ano. Acima, três quadros nos quais ele retrata os prédios do parlamento inglês, em Londres. A posição do Sol fornece pistas para os cientistas determinarem as datas em que os quadros foram pintados. A coloração do céu também pode ajudar a desvendar mistérios centenários sobre neblinas e até poluição do ar!

Muitas pessoas gostam de ver quadros em museus porque acham eles bonitos. Outras pelo sentimento que as obras expressam. Mas sabia que existem algumas que buscam informações científicas nas obras de arte? Imagine você que elas podem ajudar a explicar coisas que a gente nem suspeita… Por exemplo, dois pesquisadores ingleses acabam encontrar, em pinturas do francês Claude Monet, pistas para entender o clima de Londres, a capital da Inglaterra, há cem anos!

Nessa época, a fotografia era uma rara novidade e ninguém sequer imaginava que um dia teríamos a internet… Por isso, eram os artistas que retratavam os lugares e pessoas por meio das pinturas! Hoje, com as câmeras fotográficas digitais, tirar fotos é tão fácil que isso parece absurdo… Mas imagine se você tivesse que contratar alguém para pintar a sua festa de aniversário?

O parlamento inglês é um dos temas prediletos das pinturas de Monet. Compare uma foto desses prédios nos dias de hoje com as pinturas reproduzidas no início da reportagem e veja como os impressionistas retratavam a realidade!

Um grande artista que retratava muitas coisas à sua volta foi Claude Monet (1840-1926). Ele fazia parte de um grupo de artistas chamado de impressionistas (ver ‘Monet e o impressionismo’) e pintava muitas vezes os mesmos objetos, para ver como ficavam sob a luz de diferentes horas do dia e diferentes épocas do ano. Fez quadros muito famosos, nos quais retratou temas como o nascer do Sol, o próprio jardim de sua casa – onde tinha uma ponte e umas plantas que bóiam na água –, igrejas, pilhas de feno e uma série de bancos ao longo do rio Sena, que passa por Paris, sua cidade natal.

Outra série de pinturas ilustres de Monet teve como tema os prédios do parlamento inglês. É lá que, até hoje, os Lordes, os parlamentares eleitos e o Primeiro-Ministro da Inglaterra se reúnem para discutir as leis. É também lá que ficam a ilustre torre com relógios e o sino mais famoso do mundo – o Big Ben.

Monet e o impressionismo
O nome impressionismo surgiu de um quadro de Monet chamado Impressão, nascer do Sol (veja abaixo). Ele foi apresentado em 1874 na exposição de um grupo de pintores revolucionários. No dia seguinte, um crítico que não gostava de idéias novas chamou o evento de uma “exposição dos impressionistas”. Nasceu, assim, o nome do movimento que ficou famoso no mundo todo e do qual também fizeram parte outros artistas ilustres como Edgard Degas e Auguste Renoir.

Os impressionistas não estavam interessados em fazer uma reprodução fiel da realidade, mas em retratar a impressão que tinham do mundo com pinceladas rápidas, leves e improvisadas. Eles saíram dos estúdios para pintar ao ar livre e observar seus temas em horários diferentes, pois acreditavam que a cor das coisas não é fixa – ela muda conforme a variação da luz que as ilumina.

Nas pinturas desse movimento, até as sombras eram luminosas e coloridas em vez de pretas. Por isso, no enterro de Monet, um amigo dele trocou a bandeira negra que cobria seu caixão por uma cortina florida dizendo: “Nada de preto para Monet”.

Ciência na arte
Dois pesquisadores ingleses chamados Jacob Baker e John E. Thornes estudaram algumas dessas pinturas, feitas em 1900 e 1901. Eles conseguiram determinar o lugar, o dia e a hora que Monet fez nove quadros dessa coleção, apenas observando a posição do sol nas telas, os comentários nas cartas que enviou à sua esposa e informações sobre o tempo dos jornais da época.

Os cientistas acreditam que o artista pintava seus quadros em aproximadamente duas horas. Isso parece muito rápido, mas, como o assunto era o pôr-do-sol, cada minuto já era suficiente para mudar todas as cores do céu. Por isso, Jacob e John imaginam que ele já chegava com o desenho pronto, acrescentava as cores e a posição do Sol e deixava para terminar a pintura na mesma hora do dia seguinte, observando um céu parecido.

Só que esse trabalho não foi fácil, pois os dias seguintes não tinham céus nada iguais. O clima variava muito e ele acabava pintando quadros diferentes em vez de terminar os anteriores. Até que o caminho que o Sol faz no céu já tinha mudado tanto que não era mais possível terminá-los!

Foi por isso que ele voltou a Londres exatamente um ano depois. Nesse tempo, o Sol já teria voltado ao seu trajeto anterior e Monet poderia finalizar muitos de seus quadros antigos. Porém, não chegou a terminar todos, pois o clima novamente não o ajudou, além de ter ficado doente por umas três semanas…

Apesar de ter perdido muitos trabalhos por causa do clima, podemos ver que ele era muito cuidadoso com os detalhes de suas obras. Os pesquisadores afirmam que isso pode ser fundamental para tentarem avaliar a poluição do ar dessa cidade na época e entender melhor sobre as misteriosas neblinas que eram muito comuns por lá nesses tempos. Você imaginava que quadros pudessem dizer tanta coisa?

Matéria publicada em 01.06.2010

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Marina-Verjovsky

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